Costura os músculos - três poemas de Nathália Cruz




Bisturi nº 6


estrato córneo
estrato lúcido
estrato granuloso
estrato espinhoso
estrato germinativo
derme
costura os músculos
na linha média
corrige as hérnias
aspira as paredes
refaz O umbigo
sessenta e três centímetros
à altura do monte de vênus
uma precisa cesura
maior que a própria vaidade
da epiderme


Escrota


SEM SACO, MEN
FRÁGIL É MEUS ÓVULO


Boda


sim-
ele me deu a mão
eu peguei


***

Nathália Cruz é professora de Letras, escritora e poeta. Publicou De beija-flores e de chuvas:
traços de uma mitopoética em Paulo Nunes (Título entre os 10 mais vendidos no Estande do
Escritor Paraense, durante a XIX Feira Pan-Amazônica do Livro. Cromos, 2015), H (2º lugar no
Prêmio LiteraCidade de Poesia 2015. LiteraCidade, 2016), À trois (Prêmios Literários da Fundação
Cultural do Pará 2016 – Categoria Poesia. FCP, 2017) e Madalena|Magdalena (Bilingue. Menção
Honrosa no I Prêmio Amazônia de Literatura. Kazuá, 2019). Organizou a I Antologia Rio Capim
(Folheando, 2019), que reúne 16 artistas e poetas de São Domingos do Capim, Pará. Em 2020 venceu o
Prêmio Literário, na categoria “Melhor Escritora”, promovido pela Academia Paraense de Letras e Artesno Instagram, por votação popular.






curadoria e edição de marcos samuel costa
Variações revista de literatura contemporânea
2020
I edição 


Comentários

  1. Uma poesia ou uma descrição da vida? Provavelmente os dois. Fato é que Nathália sempre alcança minha atenção, objetivando ou não.

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  2. Eh terra de poetas inTENSAS é este Pará. NC já faz tempo não é mais promessa. Ela distende o verbo até transmutá-lo em verso. Escrita uterina que faz tremer o patriarcado?

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  3. Parabéns Natália! Tua poesia é tocante !!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. * Os poemas de NC surpreendem pelo lirismo ácido e pela economia do verbo-rasgo. Os textos são de uma densidade e de uma visualidade lúdica, as palavras precisas e sutis soam como a pontada de uma navalha rompendo a pele, tal como sugere: "costura músculos" e o poema "Bisturi n. 6", assim as palavras sugerem imagens e um ritmo singular. As palavras reeducam os ouvidos do leitor, ao mesmo tempo em que o eu-lírico desperta uma habilidade sensorial.

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