UM BUSÃO CHAMADO GELADÃO - Ana MEIRELES

 



UM BUSÃO CHAMADO GELADÃO

   Ana MEIRELES


Rafaela pensava sobre a sua estreia no geladão. Acostumada a viajar todo dia no busão, esse momento seria de efusão. Diferente daqueles em que pendurada no quentão, assistia toda sorte de falação. O nível das conversas nem sempre era elevado, havia ocasiões em que, depois de um dia de labuta miserável, a escuta de certos conteúdos significava sentir uma lufada de vento vir beijar seu rosto que luzia suado. Atenta a uma conversa próxima ao seu corpo calejado pela lida diária, uma passageira comentava no momento exato em que o ônibus passava em frente a um conhecido motel, o funcionamento na Semana Santa durante o dia em se celebra a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. 

A ordem, dizia a passageira, era o fechamento do recinto para a função a que se presta na sociedade, função esta que todos sabem como se dá, ou seja, estava expressamente determinado que neste dia, depois das 12:00 h, não haveria o esporte prazeroso dos corpos na brincadeira do rol(a)entrando pelo significado de representar um pecado mortal de desrespeito ao dia santo. 

Rafaela, super atenta à escuta, por um instante pensou: Mas esse povo trepa tanto assim e ainda vão reclamar? Será que ainda vão choramingar a fome que fustiga os pintinhos e piriquitas? (Hahahaha), isso é demais! 

De repente, um calor repentino varou-lhe as pernas entre as coxas e, num flash de olhar, enxergou passando o famoso e recém inaugurado busão, chamado de geladão. Desceu do Quentão correndo, esbaforida para alcançar o tão bendito, aguardado, geladão, que pretendiam fosse contentação.

Comentários

Postagens mais visitadas