Réquiem para Antonio Franco Barreto - Gutemberg Armando Diniz Guerra
Elevem o tom do toque de silêncio
Tão logo saibam da viagem de Antônio Franco Barreto.
Calem estrondosamente diante de mais essa estranha despedida
Esse partir ficar latejante em nós a ecoar lembranças e sentimentos.
Há muito não era o mesmo o Bar Rio Vermelho
Nem a Ribalta do ex-teatro Maria Betânia,
Tampouco o Bar Quintal do Raso da Catarina na ilharga do Teatro Vila Velha.
Havia tempo a mangueira generosa não floria nem frutificava.
O velho casarão do engenheiro Custódio Reis Príncipe entristeceu
E chora onde a Associação dos Engenheiros Agrônomos da Bahia abrigou
O Comitê de Anistia, as Associações de Sociólogos,
De Assistentes Sociais, de Nutricionistas, de Veterinários, de Fotógrafos...
Subam o tom do silêncio quando enfrentar
O negacionismo que muito representa
De ignorância e insensibilidade de um lado
E muito de esperteza e cinismo de outro.
Subam o tom do toque de silêncio
Ao saber dos mortos que se acrescentam aos números
De nativos, de quilombolas, de negros, de sem tetos, de sem empregos,
De catadores de restos de comida em latões de lixo,
De sem visibilidade embora presentes em nossas retinas e nós na garganta
A vagar nas ruas,
Em marquises de lojas de luxo,
De bancos e farmácias,
De portarias de condomínios de luxo.
Aumentem o toque de silêncio pelos que nada representam
Representando a vida que não consegue se fazer reconhecer.
Sopre mais forte e mais estridente ainda
O toque de silencio pelos que são derrotados todos os dias
Pelos que choram sem consolo
Pelos que são vítimas de crimes torpes
Mas não alcançam jamais justiça.
Façam marchas silenciosas pelos presos,
Torturados, mortos e desaparecidos pela sanha insana dos ditadores.
Ganhem as ruas em toques ensurdecedores de silencio
Pelos que morreram asfixiados durante a Covid 19
E foram cinicamente imitados pelos que lhes deviam cuidar.
O toque de silêncio grita em nossos tímpanos
Melancólicos na manhã ensolarada e fria de nosso interior fervilhando de nostalgia
E saudade acumulada no tempo e no espaço onde não circulamos mais.
Apertem todos os botões e liberem tons e sons
De silêncio interior.
O Raso da Catarina hoje vira mar de lágrimas secas
E o mar da Bahia de Todos os Santos manda suas brisas passear na rua Banco dos Ingleses,
No Vale de Ondina, na Avenida Sabino Silva, no Politeama e em Guarajuba.
Quem conheceu a noite da cidade nos tempos de chumbo e resistência
Sabe muito bem quem era o nosso hospedeiro,
Posto de abastecimento de sonhos e amores.
Bebam de fato ou imaginários príncipes malucos, chopes ao forno,
Conhaques, gins, vodcas, runs, camparis e hi-fis.
Petisquem, com água na boca, queijo coalho e carne de jabá com farinha d´água.
Ecoem o toque de silêncio em todas as torres
Como diálogos feitos a serem sempre refeitos,
Remorados e celebrados.
Ecoem o toque de silêncio...
Ecoem...
Ecoem...
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