A MINHA DOR E A DOR DOS OUTROS! - Crônica de Ana Meireles



A Dor percorria seu corpo. Um cansaço nas pernas, uma persistente cefaleia. Já de muito parecia acostumada. Mas, como podia à dor se acostumar? Achava que era porque havia outra maior, bem maior, que ocupava a parte lateral da sua alma. Aquela que ficava bem guardada e a ninguém falava. E era justamente esse pedaço da sua alma que continuamente consigo mesmo conversava e ouvia em espécie de retorno: Como pode existir tanta maldade? O egoísmo predominar nas relações? Por que pessoas acham que pelo fato de possuírem posses materiais são melhores que outras? Por que é tão difícil para a maioria dos seres humanos entender que as necessidades do outro são tão legítimas quanto as suas ? Por que o melhor tem que ser para mim? Está certo isso? Por que alguma vantagem, aptidão pessoal que faz alguém se destacar de outros, muito incomoda? Por que há grandes e extremas dificuldades de se olhar , de se ver e se conhecer? Por que passar a perna no semelhante, levar vantagem nas relações de convivência, muitos têm como natural?
Eu tenho certeza que a riqueza que há no mundo , riqueza injustamente mal distribuída, daria para saciar a fome e tornar a vida de muitos, melhor e com mais qualidade. Mas persiste na humanidade, a desumanidade, uma minoria bem abastada vivendo na opulência; E a maioria a viver na subsistência, vida subumana, na miséria, na cova preparada pelo egoísmo daqueles outros, a minoria que acha que a sua carne, a sua pele e seus ossos , são de outra natureza e por conta disso se arrogam em atitudes lastimáveis de defesa pela manutenção das desigualdades e da exploração capital pela mais valia . Por que, por que , por que ? Tudo isso se não for bem filtrado, dentro da alma bem administrado, afeta e é adoecedor. Havia sempre dores maiores e elas não eram suas. E lhe ocorria que, entre tantas perguntas cuja resposta se resume nesta palavrinha - egoísmo - se ache este como a maior peste da humanidade; Um vírus devastador, que segrega seres humanos e ergue a maldade como instituição antagonicamente humana. Humana ? É isto: O homem é um ser social que trabalha pela segregação. A ambição, o orgulho, a vaidade exacerbada, todos estes são irmãos do egoísmo que ele, o homem, acolhe como bandeira de luta contra o seu próprio semelhante.


ANA MEIRELES - é poeta e cronista - nasceu em Icoaraci Distrito de Belém do Pará em um belo domingo de Páscoa como dito por sua querida mãe Leila. Atualmente é servidora pública com formação em psicologia pela UFPA. Tem diversos livros publicados, entre poesia e crônica, esse ano faz sua publica seu primeiro livro infantil. 





curadoria e edição de marcos samuel costa
Variações revista de literatura contemporânea
2020
I edição 

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