H.E.R.O.Í.N.A.S - poemas de Pati Farias

(imagens disponível no google)
TO.T.E.M E T.A.B.U
Descasco a banana madura como uma
flor,
pétala por pétala:
bem me quer, mal me quer...
E eu quero!
Enfio até a garganta, me engasgo
e babo o sumo.
Seguro o míssil com ambas as mãos
e brinco com ele (brinquedo perigoso e frágil, umpf!).
Agarro firme e me lanço no firmamento.
Depois me solto no abismo,
num pântano caudaloso
de úmidos arbustos.
Escalo o totem até o topo (eu topo) e me sento sobre ele
(finco minha bandeira conquistadora)
admirando a paisagem,
a vista de outras paragens.
Sou a carinha de anjo demônio
no topo do totem,
em ascensão e queda vertiginosa.
pétala por pétala:
bem me quer, mal me quer...
E eu quero!
Enfio até a garganta, me engasgo
e babo o sumo.
Seguro o míssil com ambas as mãos
e brinco com ele (brinquedo perigoso e frágil, umpf!).
Agarro firme e me lanço no firmamento.
Depois me solto no abismo,
num pântano caudaloso
de úmidos arbustos.
Escalo o totem até o topo (eu topo) e me sento sobre ele
(finco minha bandeira conquistadora)
admirando a paisagem,
a vista de outras paragens.
Sou a carinha de anjo demônio
no topo do totem,
em ascensão e queda vertiginosa.
Com um caibro
me abro,
com uma tora
me estoura,
com uma espada
descabelada,
com uma flecha
uma brecha.
me abro,
com uma tora
me estoura,
com uma espada
descabelada,
com uma flecha
uma brecha.
Uma cobra em ziguezague,
serpente serpenteando serelepe,
mostrando a língua bífida,
mal educada, indelicada, rígida como rocha.
Cabeça de cogumelo, íris de faca, olhar de tocha.
Enrolo a língua toda em torno
como minha deusa Medusa e convulsiono,
em epilepsia.
serpente serpenteando serelepe,
mostrando a língua bífida,
mal educada, indelicada, rígida como rocha.
Cabeça de cogumelo, íris de faca, olhar de tocha.
Enrolo a língua toda em torno
como minha deusa Medusa e convulsiono,
em epilepsia.
Adoro chupar sorvete e pirulito em
público
por pura provocação.
por pura provocação.
Eu só vim pra causar
confusão.
H.E.R.O.Í.N.A.S
Não
existem heróis. Existem heroínas.
O
homem não sustenta a mulher.
A
mulher é a sua base, a sua sustentação.
A
mulher mantém a casa asseada,
suas
roupas bem lavadas,
passadas
e dobradas,
comida
feita e mesa posta, cama arrumada
e
bagunçada pelo amor
para
evitar as intempéries do tempo.
O
homem come na mão da mulher
e
confia em seu tempero porque depende dela.
A
mulher trabalha em casa sem remuneração,
mas
não trabalha de graça.
Ela
batalha pra garantir uma vida sadia
para
si, para seu homem e seus filhos.
A
vida da mulher dona de casa,
do
lar,
é
um desgaste redentor.
A
força do homem é fruto do seu suor (do suor dela).
A
mulher cuida da casa, dos filhos
e
de seu homem
para
que ele sobreviva nas trincheiras,
para
que ele transponha barreiras,
para
que ele avance,
mate
inimigos invisíveis e conquiste seu espaço.
E
o grande inimigo é o Mercado.
E
o grande inimigo é o Patrão.
E
o grande inimigo é o Estado.
E
o grande inimigo é multidão.
A
mulher só é invisível para quem é cego.
A
mulher sem o homem
trabalha
fora,
trabalha
em casa e toca a sua vida sozinha.
(Na
maioria das vezes ela é só, mesmo casada.)
O
homem sem a mulher é a sua ruína.
Não
existem heróis. Existem heroínas.
P.A.T.R.I.A.R.C.A.D.O
Ele me quis sua, só sua.
Ele me quis nua.
Ele me quis, já não me quer mais.
Ele - meu amante.
Ele me quis seu bebê, para sempre criança.
Ele me quis assim, mas eu desobedeci e cresci.
Ele - meu pai.
Ele me quis boa pagadora de impostos e não impostora.
Ele me quis escrava do trabalho.
Ele - o Estado.
Ele me quis temente a Deus, ao seu Deus.
Ele não quis saber do Deus ou dos deuses em que eu acredito,
sequer se creio em algum deus.
Ele não quis saber.
Ele - o representante da Igreja.
Ele me quis ao seu bel prazer.
Ele quis meu corpo, agora ele não serve mais - o meu corpo é descartável.
Ele - o representante da Igreja.
Ele - o Estado.
Ele - meu pai.
Ele - meu homem.
Ele - minha mãe:
"VAGABUNDA! VACA! VADIA!"
Ele - o silêncio de minha avó e o seu olhar duro
que já diz tudo.
Ele - o meu último recurso.
Ele me quis doce, me quis anjo, me quis submissa às suas leis.
Mas ele sumiu.
Eu não quero, eu não posso, eu não devo criar uma criança que mesmo antes de nascer já é motivo de tanta dor, escárnio e abandono; uma criança, um feto, um embrião, minha morte plantada dentro de mim e que eu não planejei e que eu não tenho apoio e que eu não quero - eu não quero.
Mas eu não tenho querer.
Eu não tenho condições sozinha.
Eu não tenho condições na rua.
Eu tenho medo.
Mas o inominável abominável mundo maravilhoso,
mundo macho, mundo cão, desmorona na minha cabeça
com o dedo em riste, a régua em riste, a palmatória em riste,
e assiste a minha linda queda de joelhos no milho
do canto da classe com um chapéu de cone de cartolina na cabeça
e a maquiagem borrada,
borrada nos olhos de lágrimas, borrada na boca pelo soco,
estourada de batom e sangue.
Eu sou só uma menina.
Eu sou só uma mulher como outras milhares de mulheres.
Eu sou só.
Eu sou só mais um corpo sem alma,
um corpo sem desejos, um corpo sem prazer,
um corpo marcado.
Eu sou só um corpo que não me pertence,
um pedaço de carne engrossando as estatísticas.
Ele me quis nua.
Ele me quis, já não me quer mais.
Ele - meu amante.
Ele me quis seu bebê, para sempre criança.
Ele me quis assim, mas eu desobedeci e cresci.
Ele - meu pai.
Ele me quis boa pagadora de impostos e não impostora.
Ele me quis escrava do trabalho.
Ele - o Estado.
Ele me quis temente a Deus, ao seu Deus.
Ele não quis saber do Deus ou dos deuses em que eu acredito,
sequer se creio em algum deus.
Ele não quis saber.
Ele - o representante da Igreja.
Ele me quis ao seu bel prazer.
Ele quis meu corpo, agora ele não serve mais - o meu corpo é descartável.
Ele - o representante da Igreja.
Ele - o Estado.
Ele - meu pai.
Ele - meu homem.
Ele - minha mãe:
"VAGABUNDA! VACA! VADIA!"
Ele - o silêncio de minha avó e o seu olhar duro
que já diz tudo.
Ele - o meu último recurso.
Ele me quis doce, me quis anjo, me quis submissa às suas leis.
Mas ele sumiu.
Eu não quero, eu não posso, eu não devo criar uma criança que mesmo antes de nascer já é motivo de tanta dor, escárnio e abandono; uma criança, um feto, um embrião, minha morte plantada dentro de mim e que eu não planejei e que eu não tenho apoio e que eu não quero - eu não quero.
Mas eu não tenho querer.
Eu não tenho condições sozinha.
Eu não tenho condições na rua.
Eu tenho medo.
Mas o inominável abominável mundo maravilhoso,
mundo macho, mundo cão, desmorona na minha cabeça
com o dedo em riste, a régua em riste, a palmatória em riste,
e assiste a minha linda queda de joelhos no milho
do canto da classe com um chapéu de cone de cartolina na cabeça
e a maquiagem borrada,
borrada nos olhos de lágrimas, borrada na boca pelo soco,
estourada de batom e sangue.
Eu sou só uma menina.
Eu sou só uma mulher como outras milhares de mulheres.
Eu sou só.
Eu sou só mais um corpo sem alma,
um corpo sem desejos, um corpo sem prazer,
um corpo marcado.
Eu sou só um corpo que não me pertence,
um pedaço de carne engrossando as estatísticas.
Patrícia Farias - vulgo Pati Farias, nasceu em Porto
Alegre, RS, em 1997. Tentando graduar-se em Letras pela UFRGS, se auto-intitula
Deusa, anjo, bruxa, rainha, mas cansa de ser chamada ou tratada como louca,
puta, vadia, demonha. Sua estréia literária, fora da timeline da rede social, se deve ao conto “O Estupro” publicado no site O
Partisano.
curadoria e edição de marcos samuel costa
Variações revista de literatura contemporânea
2020
I edição


.jpg)
Poemas lidos e gostados.
ResponderExcluirNão tenho nem palavras pra definir a quantia de sensações que os poemas da Pati despertaram em mim. Simplesmente F.A.B.U.L.O.S.O.S.!!!
ResponderExcluir