Joe Artuso


AMANHECEU NA RODOVIÁRIA EM MINA GERAIS

 
um homem escutando
o resultado dos jogos
num radim-di-pia.
a mocinha lojista
comendo coxinha,
mata a mosca
com um sorriso.
policiais chutando
mendigos
com seus coturnos cegos.
um casal de hippies
vendendo filtros dos sonhos
na realidade de um pesadelo urbano.
passos emergindo do ponteiro de um relógio
em direção ao embarque de uma morte cotidiana.
apitos de ordens no semáforo:
corre, corre, corre...
para onde?
para todos os lados!

abre o jornal,
recebe uma mensagem,
uma selfie?
paga a passagem.
para onde?
quem sabe?
um canário de metal pousa no meu ombro
e eu vislumbro um oceano.

A VAMPIRA DA RUA 17


ela é uma senhora de respeito!
setenta e cinco anos,
filantrópica,
graduada,
aposentada,
avó,
hipócrita...
ela faz pilates,
zumba,
ioga,
body pump,
blowjob
body pump,
blowjob.
ela leva seus netos na escola
com seu carro importado.
adesivo na traseira:
“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!”
à noite, leva um rapaz da academia
para a rua 17, e suga sua juventude.


SELFISMOS


Não sei se me vejo,
ou despejo
em mim
uma realidade
que desejo.
Em solfejos
e selfismos:
despir o corpo
e rolar na lama
ao som de cornetas
eletrônicas.
Minha poesia
é um self da minha alma!
Minha nacionalidade é nua.
Meu estado é alterado.
Meus limites
não respeitam municípios.
Minha dor é de fome:
do que não sei,
do que não tenho,
do que não entendo...


Joe Artuso - é poeta com dois livros publicados.

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