OS DESTROÇOS DE TAMAR - poema de Adriane Garcia

Elza Lima
Elza Lima




OS DESTROÇOS DE TAMAR


Tamar é só mais uma daquelas que precisam dormir
Com um olho aberto e o outro fechado
Caso ouça os passos do pai
Caso o padrasto vá beber um copo d’água
Caso o tio venha fazer uma visita
Caso o primo a convide para brincar
Caso um amigo da família venha jantar em casa
Caso o irmão lhe peça para entrar no quarto

É só mais uma que precisa temer
Andar na rua
Entrar em um banheiro público
Sentar-se para uma entrevista
Vestir uma roupa que goste
Tomar uma bebida na festa
Dizer não para o marido
Ficar enferma em maca de hospital

Tamar é mais uma, e mais uma, e mais uma
E se multiplica na velocidade
De um filme irreversível
Como se fosse uma questão de vestuário
Como se fosse irrefreável resistir a Tamar
Como se houvesse desejo por ela
Quando o que há é a sensação poderosa
De destroçar uma fronteira.


Adriane Garcia | FLI-BH 2019


Adriane Garcia, nascida em Belo Horizonte, em 1973, é historiadora, arte-educadora e atriz. Escreve poesia, contos, livros infantojuvenis e teatro. Venceu o Prêmio de Literatura do Paraná - Helena Kolody, em 2013, com o livro de poesia Fábulas para adulto perder o sono., O nome do mundo (ed. Armazém da Cultura, 2014), Só, com peixes (ed. Confraria do Vento, 2015), Enlouquecer é ganhar mil pássaros (e-book pela Vida Secreta, no Issuu, 2015), Garrafas ao mar (ed. Penalux, 2018). Edita, com o escritor Sérgio Fantini, o zine literário Bellzebuuu de temáticas político-sociais. Integra o site Escritoras Suicidas. 

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