Outro sol e nenhum abraço - crônicas de Marcos Samuel Costa
ou
a cegueira provocada
fui eu que na surpresa da angústia terminou tudo. eu ainda, mesmo que de forma inconsciente, apagava o fogo do nosso amor. dizia adeus aos passeios de tuas mãos, aos sois que degustávamos nas tardes. aprender na chuva que a água não são os teus olhos. as lágrimas descem do meu coração. peço o endereço das casas de festas, quero sair para beijar na boca, mas não sinto vontade de beijar nenhuma. adoeço e morro. vivo e me torno um milagre. ainda vivo continuo sofrendo pelo mal que eu mesmo me fiz, já morto sofro pelo mal que posso culpabilizar outros. peço diante da luz da noite, teus pés úmidos na cama e se aquecerem com os meus. e deixo de te escrever, vivemos já a cegueira do ódio.
Outro sol e nenhum abraço
Foi quando
a porta abriu novamente que um pedaço de mágoa acostável e crua veio para
dentro dos meus olhos. As frases longas me custam a serem pensadas dentro de um
copo vazio de fim de noite. Há vidros e paixões nênias. Mas é quando penso na
saudade, é que ela soliloquia dentro de mim, faz um grande espetáculo e me
derruba. Monogramas em mim. Não irei soletrar mais teu nome aos ventos, nem as
paredes. Sabias que palavra biblioteca em inglês é Library? Me lembrou
liberdade. Antes então irei me livrar de ti
dentro de um livro. Escreverei outras cartas e bilhetes. Um cão passeia, passa
e me morde, um cão não passa, não passeia, mas me morde. Um cão, vários e todos
me mordem. A vida é endurecida a modo de carne de pescoço. Numa manhã descolada
que a presença tua se foi. Outro sol e nenhum abraço, queria te dizer tudo que
sinto aqui dentro.
Ou a última vez que
disse que "te amo"
O peixe passa nos meus olhos
molhados. O peixe come meus olhos e passa a ver por mim. Eu como o peixe e
volto a ver. Te vejo e peço ao peixe que coma meus olhos. O peixe me ignora e
vai embora. Eu vejo. Te vejo e me desespero. Chegas quando meus olhos se fecham
a noite, justo quando tento dormir. Não durmo. Não sei dormir quando te apossas
dos meus pensamentos. Meu coração dispara e a língua treme. Como se o fruto da
árvore fosse colhida já pobre. Abro os olhos abertos e digo que ainda te
amo.
Marcos Samuel Costa - nasceu em Ponta de Pedras/Marajó e atualmente mora em Belém do Pará. Graduando
de Serviço Social/UFPA. É poeta, contista, cronista e romancista. Em 2019
publicou seu primeiro romance “Dentro de um peixe” (ed. Folheando) e tem
diversos livros de poemas publicados. E é editor desta revista e do Jornal Crescendo.
curadoria e edição de marcos samuel costa
variações revista de literatura contemporânea
2020
I edição


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Três textos na aparência de solitudes diversas. O esperar e o que se mantém dentro e fora de nós. Pensamentos arraigados e malogrados, telúrico-aquáticos na visão do ser, não sendo. Subjetivo e substancial, um pouco mais daquele.
ResponderExcluirParabéns, Samuel, pelos textos.
Obrigado, professor. E especial pela leitura e pelo comentário.
ExcluirPalavras imagéticas atiçam a imaginação do leitor. Obrigado por compartilhar seu talento.
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