BABAÇU LÂMINA - POEMAS | Antonio Aílton, Antonio Sodré & Bioque Mesito

O Babaçu Livre – 39 Lâminas – Revista Acrobata


PEIXE SECO

meu pai me ensinou a arte de escapar do anzol
mas a humanidade é mais forte que os peixes
a humanidade é mais forte que os ursos
a humanidade é mais forte que as moscas
em toda parte, há sempre um homem para
te ferrar
e te estender como uma platibanda
ou anódina flor para o sol
[um homem qualquer, mais forte que meu pai
mais forte que a humanidade]
*
borboletas estão
a meio caminho do doce
quando pousam por engano
em mim
*
para olhos impuros, só há corpo
e excremento

Antonio Aílton

O AMOR DOS HOMENS

O amor dos homens nasceu da caça
mirando o alvo, conquistando-o à força
seduzindo-o com a ponta da lança
reside ainda em cavernas.
O amor dos homens nasceu da guerra
entre o sangue e a espada
entre a nobreza e a plebe
justifica-se ainda em interesses.
O amor dos homens nasceu do comércio
trocando a escambo a produção escassa
o preço da vida chegando à mais-valia
é ainda uma moeda de troca.
O amor dos homens nasceu do pecado
entre a ideia de deus e demônio
entre simples purismos temáticos
sustenta-se ainda em uma fé sem máculas.
O amor dos homens nasceu do progresso
o homem na natureza: parte não contígua, à parte
plantando para colher no futuro o nada
colonizará ainda outros planetas.

Antonio Sodré


REVIRAVOLTA

as pessoas estão morrendo
vez em quando vigiam suas imperfeições
faltam compromissos indispensáveis
e nem se dão conta que pode ser a última vez
que falam com seus entes queridos
ou renegam os maltrapilhos
as prostitutas
os alcoólatras
em seus mundinhos de festas
a cerca elétrica
o carro com air bag
as câmeras de circuito fechado
em seus condomínios
o diploma na sala de estar
são apenas seduções aparentes
tênues seguranças
estão morrendo
assistindo à tv por assinatura
adorando as paisagens passageiras
dos shoppings centers
não cansam nem calculam que há uma trégua em tudo isso
um equilíbrio descontrolado
que pode atingi-los mesmo em uma balada
às duas da manhã
muitos já morreram
por medo
mas insistem em comprar artigos da moda
em fazer doações
e acham que tudo isso basta
mas o amor já foi embora de seus corações
a imobilidade estacionou
entre seus olhos
as pessoas não acreditam
mas o fim já chegou às suas portas
calculadamente
não adiantam os avanços da tecnologia
nem o seu estilo jesuscristinho de ser
a vida como a conhecemos
será mero artifício
nestes inconstantes dias

Bioque Mesito 

sobre os autores:  

Antonio Aílton |São Luís/Maranhão/Brasil|. Poeta, professor, pesquisador e ensaísta. Lançou Cerzir (Penalux, 2019); Martelo & Flor: horizontes da forma e da experiência na poesia brasileira contemporânea (EDUFMA, 2018); Compulsão Agridoce (Paco Editorial, 2015); Os dias perambulados e outros tOrtos girassóis (Fundação de Cultura de Recife-PE, 2008); Humanologia do Eterno Empenho: conflito e movimento trágico no Travessia do Ródano, de Nauro Machado; As habitações do Minotauro (EdFunc, 2001).

Antonio Sodré |São Luís/Maranhão/Brasil|. Poeta brasileiro na casa dos trinta e poucos anos. É assumidamente sagitariano, conjura feitiços em latim, coleciona poemas, películas e algumas aparições públicas. Lançou dois livros de poemas: Poemas avulsos (Multifoco, 2015) e [Des] amores (Penalux, 2017).

Bioque Mesito |São Luís/Maranhão/Brasil|. Poeta, nascido sob o sol de aquário, em um fevereiro da década de setenta. Possui vários prêmios em concursos de poesia em âmbito local, regional e nacional. É autor dos livros de poesia A inconstante órbita dos extremos (Editora Cone Sul-SP, 2001), A anticópia dos placebos existenciais (Edfunc-MA, 2008), A desordem das coisas naturais (Editora Penalux-SP, 2018) e Odisseia do nada registrado (Editora Penalux-SP, 2020).




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