ESSA COISA SELVAGEM E DELICADA - poemas de Adriana Araújo

EU PODERIA DIZER QUE
FOI A MÚSICA
a ideia era que atenta
aos sinais
descobrisse uma nova
América
nalguma onda um mapa
de sal
mergulhar os pés
dançar em mar aberto
:alcançar o leste:
antes que a ferrugem
devore
o barco
e a última página nos
tire a sorte
abra as janelas
adiante há de nascer a
terra
a selva nos teus olhos
o céu claro.
TENTATIVA DE
EXPLICAÇÃO
o amor apagado pelo
dia
de noite acende
não como estrelas no
céu
como a lâmpada
incandescente
do abajur da mesa de
livros
tão perto, tão quente
que se lhe ponho o
dedo
queima.
ESSA COISA SELVAGEM E
DELICADA
quando abro a janela
e vejo o que aparece
parece bobo que olhe
gente, rua, muro,
asfalto
algum verde e aqueles
passarinhos
tagarelando contra a
eletricidade
lembro do poema de um
amigo
sobre olhos doentes
que fala da sujeira
acumulada na retina
pelos anos de experiência
volto a olhar pela
janela e vejo
que as formigas
reconstruíram
a casa destruída pela
última chuva.
PARA HEITOR
não soubemos ler os
mapas ou os sinais
caso contrário
ainda estaríamos em
volta da fogueira
comemorando o calor e
a luz
ainda estaríamos numa
grande roda
pedindo à chuva que
viesse
florescer nossos
sonhos de permanecer
aqui por mais um tempo
essa seria a direção
e os sentidos nos
conduziriam ao agora
quando o futuro nos
prometesse joias
porque sem o cheiro do
teu cabelo
espalhado pelo vento e
a vista
de ti concentrado nas
cores da engenharia
a casa, a varanda e
até mesmo esta cadeira
onde me embalo seriam
invenções inúteis.
curadoria e edição de marcos samuel costa
variações revista de literatura contemporânea
2020
I edição

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Nesta gostosa leitura , Belíssimos Poemas. Maravilha!
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