ESSA COISA SELVAGEM E DELICADA - poemas de Adriana Araújo

A história dos mapas e sua função social


EU PODERIA DIZER QUE FOI A MÚSICA

 

a ideia era que atenta aos sinais

descobrisse uma nova América

nalguma onda um mapa de sal

mergulhar os pés

dançar em mar aberto

:alcançar o leste:

antes que a ferrugem devore

o barco

e a última página nos tire a sorte

abra as janelas

adiante há de nascer a terra

a selva nos teus olhos

o céu claro.

 

TENTATIVA DE EXPLICAÇÃO

 

o amor apagado pelo dia

de noite acende

não como estrelas no céu

como a lâmpada incandescente

do abajur da mesa de livros

tão perto, tão quente

que se lhe ponho o dedo

queima.

 

  

ESSA COISA SELVAGEM E DELICADA

 

quando abro a janela

e vejo o que aparece

parece bobo que olhe

gente, rua, muro, asfalto

algum verde e aqueles passarinhos

tagarelando contra a eletricidade

lembro do poema de um amigo

sobre olhos doentes

que fala da sujeira acumulada na retina

pelos anos de experiência

volto a olhar pela janela e vejo

que as formigas reconstruíram

a casa destruída pela última chuva.

 


PARA HEITOR


não soubemos ler os mapas ou os sinais

caso contrário

ainda estaríamos em volta da fogueira

comemorando o calor e a luz

ainda estaríamos numa grande roda

pedindo à chuva que viesse

florescer nossos sonhos de permanecer

aqui por mais um tempo

essa seria a direção

e os sentidos nos conduziriam ao agora

quando o futuro nos prometesse joias

porque sem o cheiro do teu cabelo

espalhado pelo vento e a vista

de ti concentrado nas cores da engenharia

a casa, a varanda e até mesmo esta cadeira

onde me embalo seriam invenções inúteis.

 

 

Adriana Gama de Araújo [São Luís-Maranhão]. Poeta, editora e professora brasileira. Mestre em História. Vencedora, em 2017, do III Festival Poeme-se de Poesia Falada. Publicou, em 2018, pela Editora Penalux, seu primeiro livro de poesia, Mural de Nuvens para Dias de Chuva. Mora em Raposa, município da grande Ilha de São Luís, é professora da rede pública municipal e estadual. Publicou, em 2019, seu mais recente livro de poemas, TRaNSiTo, pela Olho D'água Edições.





curadoria e edição de marcos samuel costa

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2020

I edição

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