O AMANTE, de Marguerite Duras - resenha de Nathan Sousa

Os períodos secretos de Marguerite Duras em "O amante"

Marguerite Duras (1914-1996), escritora, dramaturga e cineasta vietnamita, naturalizada francesa, por seu livro mais autobiográfico, publicado no ano 1984, recebeu o Prêmio Goncourt, o mais importante da literatura francesa. Tal reconhecimento deu à autora de O Amante um lugar dentre as figuras mais célebres da literatura do século XX.

 O Amante é um pequeno romance, onde a personagem-autora narra passagens marcantes da sua vida sexual, iniciada nos difíceis anos de sua adolescência, com um empresário chinês de Saigon. Sua escrita é transcendente, há um amálgama de tristeza e de prazer em todo o contexto. Duras expressa, em poucas páginas, o universo de tensão e de conflito com a família, o respeito e a vontade de matar o próprio irmão, dominador e brutal, por quem nutria sentimentos descontrolados, o respeito e angústia diante de sua mãe, a compaixão para com a fragilidade do irmão mais novo.

Amor e ódio, pobreza e afeto, demarcam o livro do começo ao fim. A autora apresenta uma teia complexa de relações, permeada pela condição humana de submissão e de libertação condicionada. Há tragédia em todas as partes e uma capacidade de narrar sua própria dor de forma sublime, capaz de criar uma atmosfera de dúvida quanto à veracidade dos fatos.

Tudo em O Amante é fotográfico; linguagem que se ramifica de forma consciente e compromissada com o real em seus substratos psíquicos. Esta habilidade para se desdobrar e se perceber diante das muitas facetas de sua vida de pouco riso – esta alteridade – se confirma logo nas primeiras linhas do livro, quando diz: “Muito cedo foi tarde demais em minha vida”. Marguerite Duras deixa cada personagem sem nome, apenas o Rio Mekong e a cidade de Saigon parecem ter esse direito. De fato, em sua narrativa, apenas um rio e as veias enviesadas de uma metrópole asiática são dignos de tal demarcação.

Não há juras de amor, apenas um amante. E um fluxo desenfreado de memória e sentimento, conduzido por quem sabia que a vida nunca se desfaz da cena.

 

Nathan Sousa (Teresina, 1973), é tecnólogo em Marketing, ficcionista, poeta, letrista e dramaturgo. É autor de vários livros. Venceu por 05 vezes os prêmios da União Brasileira de Escritores. Foi finalista do prêmio Jabuti 2015 e do I Prémio Internacional de Poesia António Salvado. Tem poemas traduzidos para o inglês, francês, espanhol e italiano.

 

 


Comentários

Postagens mais visitadas