Poemas de Max Lima


quaresma

lavo as mãos como quem lava

os pés dos pecadores

a água correndo nos dedos imóveis

ao pó voltaremos?

já fechei todas as portas e

janelas

meu pensamento de lama

não pode tocar  todas as coisas

há dilúvio na minha pia

o terceiro dia está longe

 

I

como alterar o curso de um poço?

como

enxergar por através

de uma janela soterrada?

como pisar nestas pedras de ouriço

ou abraçar este real só sombras?

as respostas não chegam

Ártemis prendeu os ventos

da anunciação

as cortinas do teatro se erguem

feito tijolos

nas ruas só o grito

de uma cartomante em pânico

 

(sem título)

 

a casa vazia

nenhum símbolo

só o oco de rotinas

tenho tentado ressignificar os pratos na estante

que agora

 – cacos –

são saudades de um instante

da integridade do ovo

que não se sabia oco

tenho tentado dinamizar o passado

com um botão rewind

só assim posso re-ter a mão

a desfazer minhas tranças

estou tirando os móveis do porão

só o passado dá um nó no vácuo

 

Max Lima - é poeta e músico carioca. Mestre em Literatura Brasileira, publicou em 2020 seu primeiro livro, Tetraplegia das Coisas, pela editora Patuá.




curadoria e edição de marcos samuel costa

variações revista de literatura contemporânea

2020

I edição

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