3 POEMAS DE FELIPE TEODORO
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| (disponível no google) |
1
eu queria arrancar vc
de dentro do dentro
deixar apenas a casca
do inseto gigante
q deixou pra trás
: memória q não assombra
gesto q não corrói.
q importa
o telefonema dos ossos
prum Terceiro Céu?
q importa o cheiro
da roupa suja
que abre caminho?
agora um simples
triste & justo: eu amo vc.
dói mais que fruto
prestes a apodrecer.
hoje tenho a impressão
que o sonho do azul do céu
é esmagar toda criatura
que leva nos pés cansados
o peso dessa vida miserável.
2
os olhos doem pedra
seca bruta prestes
a rachar
é amargo na pele
lágrimas marcadas
pinturas rupestres
apocalipse do rosto.
quem vai dizer olho no olho
eu compreendo tua tristeza
me dá um gole dessa angústia
deixa q eu apago a luz
quem vai dizer corpo no corpo?
os dedos sangrando
desenhando sonhos impossíveis
{a corrida não para}
& eu com o pacote de leite furado
& eu sempre correndo atrasado
seis quadras pra chegar
onde eu sempre quis
minha alma escorrendo
no chão quente das horas
ser feliz é esquecer
que tá todo mundo aqui.
minha mãe já dizia
viver meu filho é coisa pra rico
a gente sobrevive
as vezes não olhando
que eles tão matando a gente.
o fracasso é um fantasma
q me visita a noite
& conta histórias de terror
pra eu não dormir tranquilo.
ontem eu falei
vou largar tudo & todos
gritei pras paredes
não vou mais resistir
hoje,
escrevi um poema
pra plantar outra flor
nesse coração de terra seca
– estou esperando...
3
não consigo respirar direito
todos os pensamentos
afogam no meio do caminho.
um dos meus maiores arrependimentos
foi não ter aprendido a nadar
ainda quando criança.
agora tenho medo de água.
agora tenho medo da morte.
odeio chorar
as lágrimas impregnando
a pele se alojando
nos mistérios do poros.
as lágrimas alimentando
com seu gosto sujo
esse oceano invisível
que carrego comigo.
não consigo respirar direito
todas as palavras
afogam no meio do caminho.
& eu com medo
das ondas quebrando sem fim
nessas frestas do fundo do peito.
& eu fugindo
até do gosto desse mar
dos teus olhos
Felipe Teodoro tem 27 anos, mora em Ponta Grossa no Paraná. É autor dos
livros Onde os Pássaros Cantam Doentes (2018), Toda Noite é um Abismo
(2019) e O Coração é uma Pedra Sonhando (a ser lançado pela Editora Urutau
em 2020). Publicou em antologias e diversas revistas, entre elas: Gueto,
Alagunas, Vacatussa, InComunidade, Ruído Manifesto, etc. É editor no selo
Olaria Cartonera e professor. Os 3 poemas abaixo são inéditos.
curadoria e edição de marcos samuel costa
Variações revista de literatura contemporânea
2020
I edição



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Bonitos versos, bonitos poemas! Gostei de lê-los. Destaco este excerto:
ResponderExcluir“quem vai dizer olho no olho
eu compreendo tua tristeza
me dá um gole dessa angústia
deixa q eu apago a luz
quem vai dizer corpo no corpo?”