AMORCRESCI - Por Ana Meireles

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AMORCRESCI 

Sentei um momento pensando em te escrever. Logo uma forma de pensamento começou a se desenvolver. Envolvi-me nele achando que delongadas seriam as horas em que iria te escrever. Triste engano! É ufano pensar que ainda vou conseguir por muito tempo em letras escritas te falar. Tu passou e só o que me deixou foi o rastro do silêncio que sempre buscastes cativar e que eu, na minha ingrata inocência, não contabilizava como palavra. 
Claro que era sempre uma afirmação de quem não queria dizer nada. E nada já era uma estupenda resposta. Não abarcava o alcance naquele momento do que é dizer sem usar o nada de palavras. Esvaziados somos muito mais capazes de pensar e dizer sem dizer. Era vazio o que te preenchia e por dentro de ti falava? Acho que agora sei, bem cheguei a compreender ausências. Construí com elas meus também hiatos, aprendi a decrescer meus olhos de ti. Fui devagar buscar a porta e para alcançar a fechadura foi só coisa de esticar os dedos. Alcancei! Abri meus olhos com outros versos, outros verbos...
Desconectei de ti que havias me conectado por um fio de afeto temporário. Era tão resistente este fio que, um tempo estranhei quando já um pedaço vi se desfazendo em fiapos. Era o começo de um novo tempo? Sim, a consumação dos dias forçava dizer que era. Tudo estava indo na direção daquilo que um dia tanta estranheza causou-me: Desapego!
Não compreendia como se podia viver sem apegos. Ensinaste-me algo! Pra ser sincera, até hoje não sei bem, bem. Mas, cuidei de aprender em parte e criei o meu próprio espaço de evitar desassossegos. Estou, finalmente, neste caminho de sonhar (ainda) e acordar. Esquecer e lembrar. Essa coisa que um dia me dissestes e recebi como se fosse um punhal entrando doloroso na carne. E interessante foi aprender a verificar exatamente quando um texto principia em rumo ao seu final. Amorcresci de vez , sem perder a fé, a força e a ternura! 




ANA MEIRELES - é poeta e cronista - nasceu em Icoaraci Distrito de Belém do Pará em um belo domingo de Páscoa como dito por sua querida mãe Leila. Atualmente é servidora pública com formação em psicologia pela UFPA. Tem diversos livros publicados, entre poesia e crônica, esse ano faz sua publica seu primeiro livro infantil. 


curadoria e edição de marcos samuel costa
Variações revista de literatura contemporânea
2020
I edição 

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