02 poemas de Roberto Montemor

OBRA DE ARTE DA SEMANA | Amendoeira em Flor, de Vincent Van Gogh – Artrianon

(Van Gogh, reprodução)

"EM NOME DAS ROSAS"

Pândegas, ledas, tenras Madalenas,
Intensas em noites
Desvairadas de conhaque;
Desmaiam de suspiros venais,
E amam sempre mais
Quem mais puder pagar
Por seus beijos ofertados;
Seus olhos vazios
Enchem-se de ardente paixão
Quando ouvem uma cédula
Estalar;
Ei-las cantando na casa azulada,
Na casa rosada,
Na casa de amar...
Noites perdidas em esquinas sujas_
Em nome das rosas,
Também vou cantar...
Também vou levando
Na alma abismada,
Pros seios da terra
Saudades do lar...
Também vou deixando
Na esteira do tempo,
À perder-se no vento
Canções pra sonhar.
Vou me confundindo
No tédio e na sina
Com essas pequeninas
Que o sol não verá...
Pândegas, ledas, tenras Madalenas...
Rosas vendidas no lupanar!


“CAMA SEM ESTRADO”


Quando enfim chegar o momento
Em que o sono é pra sempre,
Seja o dia nublado ou festivo,
Deitarei na minha cama sem estrado
Cheio de ematomas de amores mal vividos
E com remorsos mil de mil pecados;
Serei apenas, na incubência malfadada,
Na catedral dos vermes decompositores,
O servir de inspiração à dor que encerra
O último adeus dos meus amores...
Serei ainda, na escuridão atômica,
A frialdade de um jardim de margaridas_
O crânio oco,
O corpo retalhado,
E um punhado de tripas carcomidas.
Esses céus... esses deuses... essas miragens...
Essas promessas de luz... deixo-as de lado_
Não quero que mentiras enfeitadas
Forrem com enganos a minha cama sem estrado!
E se permitirem uma última vaidade
Ao desbotado palor de um corpo desbotado,
Gravem na humilde cruz da cova humilde jaz Onde jaz um corpo enlameado...
Se essa desventura lhe valeu alguma nota,
Foi um verso de amor em noite enfebrecida...
Repousa nesse túmulo o poeta de mármore
Que embora frio amou demais na vida!



Roberto Carlos Montemor dos Santos, dito Roberto Montemor, nasceu em Vila Velha em 16/03/1982; é estudante de filosofia pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), já participou de saraus, e um dos seus inúmeros poemas, "Em Nome das Rosas", fora publicado na coletânea CNNP 2014 (Concurso Nacional Novos Poetas 2014).

curadoria e edição de marcos samuel costa
Variações revista de literatura contemporânea
2020
I edição 


Comentários

  1. Excelente Poemas, agradou-me , deveras, a leitura. Lembrou-me a força dos versos de “ Dos Anjos”. Parabéns!

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  2. Que orgulho poder dizer q Roberto é meu amigo .... seus poemas são viscerais, expõem toda a humanidade que há em nós de dentro para fora; as angústias humanas mostradas como elas são sem nenhum verniz, sem nenhum engano, é preciso ter estômago para ler seus poemas porque neles a vida se apresenta como ela é, com todo o absurdo do existir e, certamente, nem todos estarão preparados para esta conversa, a sociedade há de preferir o solo macio das mentiras coloridas, o sonho pérfido e venenoso das promessas da modernidade que nunca se concretizaram e jamais se concretizarão posto que tudo é mentira e subterfúgio. Quem lê os poemas de Roberto Montemor abraça a vida em todos os seus aspectos;; tanto na incrível e breve oportunidade que ela é por si quanto no absurdo de sermos estes seres que vivem para morrer.

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    1. Tmj meu bom.. O orgulho é todo meu em poder dizer que você é meu amigo.

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  3. Vc é o poeta que ganhou o mundo de dentro do seu quarto, mesmo em seu "anonimato" vc já é bem famoso...
    Parabéns e Sucesso

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    1. Olha, eu não sei de quem se trata, mas parece me conhecer bem (rs). Obrigado pelas gentis palavras.

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