As multivozes de Falsa Fala - por Airton Souza

 


As multivozes de Falsa Fala 


"Falsa Fala - reunião de poemas de Traço-Oco e Homencídio de ou: os poemas nãos são linguagens" é o novo livro de poemas do poeta, pesquisador e professor Paulo Nunes. A capa é do artista Tadeu Lobato. A nova obra de Paulo Nunes reúne duas importantes obras, e possuí 84 páginas. Um dos livros de "Falsa Fala", foi semifinalista do Prêmio Oceanos, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa, o livro "Traço-Oco", publicado em primeira edição pela Editora Penalux, de São Paulo.

Em "Falsa Fala - reunião de poemas de Traço-Oco e Homencídio de ou: os poemas nãos são linguagens" o que se percebe de imediato é a poética como resignificação das coisas, dos seres e do mundo. Assim, o jogo simbólico que cada poema delinea está marcado, principalmente, pelas proximidades sonoras e gráficas das palavras presentes em boa parte dos poemas, como por exemplo: 'Meu avô, grisalho de riscas,/pintou minha pele de preto' - poema Avô sapateiro - ou no poema Traição a Teseu, vejamos: 'Me enrolo/no rolo/ de palavras/ o labirinto'. Dessa forma, o poeta Paulo Nunes aproxima as relações mais tênue entre palavra, ritmo e o processo de fazer com que a linguagem poética ultrapasse sua condição de estaticidade imagética. 

Os poemas de "Falsa Fala - reunião de poemas de Traço-Oco e Homencídio de ou: os poemas nãos são linguagens", livros que estão separados por pelo menos dez anos, quando levamos em consideração os anos de publicações das duas obras, parecem convergirem para uma unidade temática. Nesse livro os poemas são linguagens rarefeitas de afetos e, sobretudo da relação mais íntima de Paulo Nunes com o mundo. Visivelmente, o poeta recria nesse livro uma espécie de mergulho ontológico, que é capaz de atingir em cheio o que o poeta Carlos Drummond de Andrade chamou de 'o sentimento do mundo', mas Paulo Nunes vai além, e como se conduzisse a chave, pluraliza as sentimentalidades, porque ele sabe que é  preciso abanar a bandeira 'como o marinheiro que cegou ante o mar' - poema Chuva.

Dessa forma, o poeta Paulo Nunes conjuga em sua linguagem questões em torno das territorialidades e temporalidades, porque segundo ele mesmo, está sempre 'turvo de corpo inteiro' - poema Tempo Grafado. Ao longo do livro as palavras estão imbricadas pelo cotidiano e a memória, o que faz com que reverbere em nós novas subjetividades. Os poemas traz dentro de uma estética própria a palavra no estado de coisas. Os poemas, metaforicamente, são capazes de tocar profundamente outros sentimentos que nos humaniza. 

"Falsa Fala - reunião de poemas de Traço-Oco e Homencídio de ou: os poemas nãos são linguagens" nos mostra o quanto o trabalho com a linguagem faz da poética outra dimensão das coisas, no mundo e, ao mesmo tempo, a amplificação, não só no campo simbólico, mas a transposição sentimental de forjar outras belezas em nós. Esse livro é um acontecimento, como se esses dez anos cada poema estivesse aguardando para, enfim, se encontrarem nesse "Falsa Fala - reunião de poemas de Traço-Oco e Homencídio de ou: os poemas nãos são linguagens."





Airton Souza [Marabá, 1982], é poeta, professor, pesquisador e ativista literário. Já publicou mais de 38 livros, e participa em mais de 90 antologia. Venceu diversos prêmios literários. É mestre em Letras, pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, e possui poemas traduzidos para o espanhol, o inglês e o alemão.

Comentários

  1. Ter a leitura de Airton Souza cá, nesta prestigiada revista, é prazer e reconhecimento a um trabalho que venho desenvolvendo, gradualmente, como escritor. Airton, além de poeta, é um estudioso da literatura brasileira contemporânea, o que envaidece qualquer poeta. Sou grato ao professor-poeta pela generosidade e à Variações por oportunizar a difusão de FalsaFala, um livro que me deu tanto prazer de escrever, e mais prazer dá em vê-lo circular por competentes mãos

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