ENTREVISTA COM O POETA RENATO GUSMÃO - Por Gigio Ferreira

José Renato Oliveira Gusmão - Renato Gusmão, nascido em Belém, capital do estado do Pará, no dia 08 de agosto, entre os sumos das raízes e das folhas das mangueiras. É Produtor cultural, Poeta e Compositor.


Gigio Ferreira pergunta: Um poema forte é aquele que consegue manter o silêncio induzindo palavras? Ou você como poeta, percebendo a ilação em seus estágios, obtém êxito ao afastar os símbolos decifrados das mediunidades oportunistas?

Renato Gusmão responde: Quem sabe de um poema forte, diante das palavras a transformar versos? Será que existe, ou é mito, definir a escrita? Um verso, basta para classificar o conjunto da obra? — Bem, o silêncio é a chave que tranca-destranca vulnerabilidade e fortaleza, sim… O poeta tira de letras seus oportunismos imediatistas — Pintou ideia, crava no papel sua arquitetura palavreada. Cada termo surgido da cabeça para fora, quebra o silêncio do pensamento, custando-lhe a harmonia relacionada entre o homem e o artista. Vira caos o convívio bom. Na verdade, o poeta que se diz, quer ser em primeiro lugar, apenas o ser, e muito capaz de abstrair os conflitos dessas genialidades.

Transformar o mundo, através dos versos é a ordem de cada dia e primordial do poeta. Posteriormente, descobre-se um homem comum que contribui apenas para si. Eis o silêncio. Esquece o poema bom. Cânones, por aí... O poema, essencialmente, precisa apenas ser cachaça boa de enaltecer a embriaguez!

Gigio Ferreira pergunta: É o grande amor pela poesia que faz o poeta descobrir o pão no deserto e a água entre as pausas?

Renato Gusmão responde: Sim e não! Existe um imenso abismo logo ali, entre o fogo e o dragão. A vontade do poeta de está envolto às palavras, transforma essa imensa paixão, num amor exacerbado. Uma busca diária que os faz se atirarem no abismo das palavras. Por vício, cio e um ofício louco. É mesmo que saciar desejos inerentes em largar ou pegar. O poeta pega por que não quer de forma alguma perder o que lhe é concedido, assim do nada, ou o que lhe é de direito: pensamento; inspiração e tudo o que for de se criar no momento exato à construção de uma grande obra, porém nem sempre acaba em uma boa obra, mas, nada os separam. Pela arte da escrita, o poeta arrasta-se; vive e mata até o seu poema. O executa da forma mais cruel e mesmo sem nenhuma lágrima a jorrar, com suas mãos firmes, atira o poema no cesto-lixo e busca outros aperfeiçoados. Existe imensurável determinação por parte do poeta em busca de estesia.

Gigio Ferreira pergunta: O que te agrada e desagrada na poesia contemporânea?

Renato Gusmão responde: O interesse grandioso dos escritores, em propagar suas obras com o intuito único, na formação de leitores; as grandes investidas dos professores das Escolas Públicas, na tentativa de aproximação dos artistas das palavras com os alunos… Isso muito me apraz. Também, as grandes descobertas de autores através dos editais públicos, esses quando são sérios. Nada se ganha no grito, o que é muito recorrente entre os autores que se autointitulam os “cânones”. Tentam levar vantagens em tudo. Desconsideram o aprendizado e o aprimoramento. Tenho horror aos puros sábios. Esse modo me desagrada bastante. No mais, tudo certo para o bom encaminhamento às boas leituras.

Gigio Ferreira pergunta: No Brasil os poetas que escrevem letras de músicas são chamados: letristas! Nos Estados Unidos esses mesmos poetas são chamados: Songwiter! Numa rápida tradução obteremos: Escritor de Canções! Em sua opinião, onde começa o preconceito e onde termina a autoestima?

Renato Gusmão responde: Não enxergo essas atividades pelo prisma antagônico. Sempre houve a discussão com um embate interminável nos grandes eventos literários, congressos de poesias, feiras e outros. No Brasil, há uma legião de letristas e quase todos são grandes poetas, desde que as letras musicais são belas obras primas, com todos os elementos enriquecedores literários. Não sei definir as questões em pauta. Sempre, uma boa letra de música é sinônimo de um grande poema, porém um belo poema não cabe em uma melodia. Apenas!

Gigio Ferreira pergunta: A solidão já te convenceu ou ela vive te convencendo? Por quê?

Renato Gusmão responde: A solidão tá aí, sempre… Eu a convenço e ela obedece,  e também pede-me companhia, abrigo. A solidão é necessária para evocar a memória das palavras.

É fundamental para o poeta, esse estado solitário. O encontro consigo, alegre ou triste… É fundamental o aprofundamento das ideias, vindas de lá do fundo mais fundo, na busca de imagens abstratas para concretizar os retiros espirituais. Sou cúmplice da solidão e ela, a companheira inseparável.

São da solidão, os melhores escritos.

A solidão remete todos os sentimentos para o universo mais frenesi da multidão e não há o que explicar esses porquês.

Gigio Ferreira pergunta: Para você o que é grito e o que é fala?

Renato Gusmão responde: Grito é a forma absurda na tentativa de conquista ou convencimento. Sempre utilizo a exaltação de que nada se ganha no grito. Porém, de vez em quando, é altamente necessário para mostrar o certo, onde há cegueira cultural.

Fala está na leveza da condescendência. Na possibilidade de ser e estar. Fala quer dizer muito sobre o convencimento, a igualdade, o poder real da lucidez. O poema bom, não precisa ser explicado, nem carece de holofotes. O poema convence através da sua fala.

Gigio Ferreira pergunta: Você já temeu algum dia pelo funcionamento metafórico da sombra? Por quê?

Renato Gusmão responde: Não! Esta possibilidade não amedronta, posto que a utilização da minha mente ganhará poderes e será precisa. Será lapidada continuamente. Eu, quanto criador não tenho que temer coisa alguma, imagina se não acreditar nas invenções, nas alegorias, nas imagens contundentes e fantasiosas que dão vidas aos personagens do âmago de uma obra literária. Será que nunca desbravarei os sertões de Guimarães; nunca beberei dos rios e das chuvas Marajoara de Dalcídio. Como não naufragar nas embarcações pelos mares de Pessoa.

Se há o empoderamento da luz, jamais haverá a possibilidade temerosa da sombra. A certeza da obra é a concretização, libertação do pensamento dentro da gigantesca roda imaginária. Criar é luz, é respirar o ar mais puro e que envolve tudo ao redor. Não tem lugar, nem forma alguma para absorver medos.

Gigio Ferreira pergunta: O que você achou dessa entrevista ao Jornal Crescendo em parceria com a Revista Variações? 

Renato Gusmão responde: Todo o lugar que quer o seu povo fora da alienação, longe do mais do mesmo, carece urgentemente de ações profícuas. Fato esse, desde que seja com clareza, honestidade. Sempre direcionando com objetividade, os seus propósitos. Louvável atitude. Louvores aos bons pensadores deste projeto. Muito benéfico para com todas as partes, pois acrescenta demasiadamente, tanto para escritoras/escritores, quanto para leitores em geral. Genial ideia.




José Renato Oliveira Gusmão - Renato Gusmão, nascido em Belém, capital do estado do Pará, no dia 08 de agosto, entre os sumos das raízes e das folhas das mangueiras. É Produtor cultural, Poeta e Compositor. Nos dias 20 e 21 de março de 1993, foi apresentado ao público de Belém do Pará o projeto/espetáculo intitulado Cor da Pátria que referendava o trabalho de um poeta que sempre teve o desejo de ver seus poemas musicados, interpretados por expressivas vozes de cantores da região, e misturados com outros segmentos de arte, num grande encontro para provocar e intensificar trabalhos coletivos. O Cor da Pátria, enfatiza shows de diversos títulos e também contendo vários objetivos, entre eles: por em cena artistas em início de carreira, dando-lhes visibilidade; concretizar os trabalhos mostrados em espetáculos nos espaços culturais, em CDs e livros. Com o Programa Cor da Pátria foram realizados inúmeros shows e dentre tantos se concretizaram os CDs: SUMANOS (1997); DOS ZENS (2005); PALAVRAS NO TEMPO (2014).
Os livros: PALAVRAS NO TEMPO (2002); CAFÉ COM ANGU – CRÔNICAS E OUTROS POEMAS, (2007); BARULHENTOS CAUDALOSOS, esse também lançado em Lisboa-Portugal (2016), ENCHARCADO (2018).
Premiado no I Festival Internacional de Música, na I Bienal de Música de Belém – Fumbel.
Publicou poemas nas antologias: Hélio Pinto Ferreira da Fundação Cassiano Ricardo de São José dos Campos;
Antologia Poesia no ônibus, da Prefeitura de Belém do Pará; Antologias Poesia do Brasil e Poeta Mostra Tua Cara, de 2008 a 2015, pelo Congresso Brasileiro de Poesia, evento que ocorre na cidade de Bento Gonçalves – RS
Presidiu do Instituto Cultural Extremo Norte, NOV/2014/NOV/2017
Coordenou o Proeycto Cultural Sur Brasil Núcleo Norte, entidade do Congresso Brasileiro de Poesia, na cidade de Bento Gonçalves-RS. 2010/2016.
Premiado como Destaque na Literatura Paraense (2007 e 2014), no Baile dos Artistas.
Destaque da Literatura paraense pelo projeto Balde Coletivo – Natal Ribeirinho, em 2015.
Criou junto ao compositor Renato Torres o espetáculo De Tudo, Música + Poesia, desde 2011.
Criou junto à atriz Mônica Lima o recital teatral Dentro da Lua, desde 2013 e Outro Mundo, 2016, contemplado pro Programa Seiva da FCP.
Ministrou Oficinas no 1º Encontro de Arte e Cultura em Extensão Universitária/Multicampiartes no Município de |Igarapé Miri, período de 17 a 23/03/2014.
Participou como palestrante do Projeto Café das Letras, na VI e X Feira Pan-Amazônica do Livro.
Realizou o Sarau Encharcado, na XXIII Feira PanAmazônica do Livro e Multivozes e na Festa Literária em Bragança – 2019.
|Realizou o espetáculo Mantra, no Centro Cultural Sesc Vero O Peso, em parceria com o compositor Allan Carvalho – 2019.
Fones: 0XX 91 98108 1523 – E-mail: gusmaozen@hotmail.com


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Gigio Ferreira nasceu no dia 22 de junho de 1967, em Belém do Pará. Cursou Letras. Sua estreia se deu com a publicação da dramaturgia infantojuvenil, O gringo da Matinta (2014), em parceria com a escritora Miriam Daher, pela Editora Giostri-SP. Com exceção do livro O Palhaço de Arame Farpado (2016), poesia, pela Editora Penalux, as suas oito obras publicadas, foram pela Editora Giostri. Atualmente possui dezoito livros inéditos aguardando publicação.




curadoria e edição de marcos samuel costa
Variações revista de literatura contemporânea
2020
II edição

Comentários

  1. Eu gostei muito disso: "Transformar o mundo, através dos versos é a ordem de cada dia e primordial do poeta. Posteriormente, descobre-se um homem comum que contribui apenas para si. Eis o silêncio. Esquece o poema bom. Cânones, por aí... O poema, essencialmente, precisa apenas ser cachaça boa de enaltecer a embriaguez!"

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