Ideias mortas - dois poemas de Rafael Mendes
Ideias mortas
portas pendem de ângulos rebeldes ao prumo
pratos despencam dos armários embolorados
quartos invadidos por vento, mau cheiro e insetos
vidros quebrados, resistências vencidas
lapidar vida bruta ainda que imputada pela
ausência da perícia com trabalhos manuais
talvez chegue a execução
de sonho que já nasce pronto
recado enviado por deuses e anjos
seguir resignado através do alfabeto
há de existir letra que expresse solidez
diante da apatia febril do coração
Operações nas favelas
não gosto de helicóptero
atira pra baixo
pessoas morrem
isso é errado
deu tanto tiro
me escondi atrás da máquina de lavar
todo mundo na minha escola chorou
a operação destruiu meu quarto
eles bateram no meu primo
um dia eu tava na escola
deu tanto tiro
minha mãe me buscou
deu mais tiro em casa
o ruim das operações
nas favelas
é porque
não dá pra brincar
Rafael Mendes é tradutor e poeta. Residiu em Franco da Rocha, Dublin e atualmente mora em Barcelona. Publicou em 2018 Ensaio sobre o belos e o caos pela Editora Urutau. Tem participação nas seguintes antologias: Poetry in the Time of Coronavirus (EUA, 2020, no prelo), Parem as máquinas (Off Flip, 2020, Brasil, no prelo), Writing Home: The New Irish Poets (Dedalus Press, 2019, Irlanda), 32kg: Uma antologia Brasil-Irlanda (Urutau, Europa, 2017). Seus poemas já foram publicados nas revistas Ruído Manifesto, Gazeta da Poesia Inédita, Revista Gueto, Mallarmargens, Revista 7faces, Revista Lavoura, The Blue Nib, FLARE, The Irish Times, entre outras. Edita o blog de tradução Poetry Bilíngue.
Gostei dos poemas. O segundo “Operações na Favela” chegou a doer.
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