O CIÚME É VENENO DE COBRA? - por Ana Meireles

O CIÚME É VENENO DE COBRA?

Lindaura era uma velha amiga de infância. Casou, teve 4 filhos e depois de um tempo foi morar na Cidade de Olinda, em Pernambuco. Lá seus filhos cresceram, se formaram, arrumaram mulher e casaram. Havia mais de 30 anos que Lindaura e Nazaré não se viam. Por um acaso do destino se descobriram no Facebook e estabeleceram comunicação virtual.
Tinham muito em comum e muito a conversar. A Saudade e lembranças do tempo em que eram crianças preenchia boa parte do diálogo entre elas.
E um dia, durante um momento de confabulação, Lindaura disse:"Vou te contar umas coisas que até bem pouco tempo achava que era o contrário, mas a experiência vivida me fez ver que não é bem assim. Estou falando da fama de megera que sempre tiveram as sogras, lembra?" 
Eram comparadas a verdadeiras cobras venenosas. Pois, olha, me tornei uma. Não, não me entenda mal. Me tornei uma sogra, cobra eu ainda não sou, mas pelo andar da carruagem, o veneno está a me rondar, vou te contar.
Antes, porém, vou te dizer o que aconteceu com uma vizinha com quem fiz contato e nos tornamos muito amigas. É o seguinte: O filho desta vizinha é marítimo e fica a maior parte do tempo viajando. Um belo dia, esta vizinha, chama-se Luzia, sem ver a neta há muitos dias, foi fazer uma visita. Não teve tempo de avisar a nora da visita que pretendia fazer, a saudade batia forte, resolveu de última hora.
Foi e chegou na casa por volta de 16:00 h. Bateu, bateu 3 vezes na porta e ficou a esperar. Como não viessem lhe atender resolveu arriscar e surpreendeu-se com a porta destrancada. Entrou na casa pressurosa sentindo-se uma invasora. Não demorou muito do momento quando entrou, para escutar um som estranho, parecendo um gemido agudo, alguém arfando, vindo do quarto do casal. Se guiou, então, pelo som que lhe chegava aos ouvidos e deparou-se com a cena mais indigesta da sua vida.
Sua santa norinha se encontrava na cama transando, mas não era com seu querido filho, era com um outro homem. O susto dos dois amantes foi tamanho! Naturalmente a surpresa deve ter aniquilado o tesão da transa selvagem.
A sogra saiu daquela casa, a casa do seu filho, desarvorada. Precisou que uma pessoa na rua lhe amparasse tal o estado de choque em que ficou. Decidiu que só contaria o sucedido do flagrante adultério quando o filho estivesse presente. Avaliava que poderia causar mais mal além do que já antecipava iria causar. Aguardou o retorno do filho. Não cogitou que nesse ínterim a santa nora aproveitaria para contar a sua própria versão da situação.
E não deu outra: Quando o filho chegou e sua mãe foi ao seu encontro, qual não foi a sua surpresa ao ver que o filho, além de duvidar do que ela, mãe, lhe contou, ainda a expulsou de sua casa. Fato que foi devastador para sua alma de mãe dilacerada pela conduta do filho.
Nazaré não se espantou com o relato que ouviu da Amiga. Estava atenta ao que disse anteriormente sobre se encontrar às vias de se tornar uma réptil venenosa. E antecipou-se dizendo que, por mais doloroso que fosse, os filhos são do mundo e viverão suas próprias experiências, felizes ou dolorosas.
O amor do filho que antes do casamento tinha como só seu, sofre inevitavelmente interferências no sentido dos cuidados e relacionamento a que estava habituada. E é natural, está construindo sua vida, sua história com sua própria família.
Entretanto, infelizmente, muito comumente, se estabelece uma relação de posse por parte da nora, também. Relação que a mãe entendia ser dela com o filho, o filho que ela pôs no mundo e que passa a entender como tentativa de apagamento por parte da outra. Ambas enganadas !
A mãe não amará menos o filho, porque ele casou. Mas sofrerá percebendo que ele já não lhe devota a devida atenção. A nora, por conseguinte, e é válido dizer que não são todas, tudo fará para assegurar sua posse, a do homem que agora supõe ser seu. Uma disputa de território afetivo se estabelece e o ciúme é o grande e triste agenciador.
É difícil aceitar isso, mas a maioria das relações se contaminam com veneno de cobra, pelo lastimável desejo de domínio sobre o outro que sempre existe, competição pela atenção afetiva envolvendo inclusive ganhos materiais. Domínio que o tempo faz ver e mostrar a derrocada do belo do Amor.
Pois, sumariamente, é necessário que se respeite a história anterior do filho com a mãe por parte da nora, como também, a história que o filho inicia com aquela que escolheu para ser sua companheira.
O Amor inseguro, com figurações de posse e negação do outro, é somente egoísmo ditando a morte dele - o amor - que jamais consegue respirar sufocado, pois da sua natureza é a substancial naturalidade de gozo da liberdade.
Lindaura, entre emocionada e reflexiva, escutou atenta os argumentos verbalizados pela Amiga. Consentia de si para si, que, tal como o filho da vizinha Luzia, beber do veneno se constituía numa amarga escolha.
Todos somos convocados a pensar e sentir as situações. E era o que faria depois daquela elucidativa conversa. 




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