Três poemas de Nathan Sousa
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| (Oskar Kokoschka, reprodução) |
SEDE
Plantei meus olhos
no cimento
das paredes.
As árvores dormiam.
Eu via.
E meus olhos
ardem e são cinzas.
As paredes morrem
pouco
a pouco como quem
soluça. Eu queria
dizer
algo sobre o tempo
e o pó. Alguma coisa
sobre
os abismos.
Mas a
boca seca não lança
palavras
como quem cai. Não
sabe de sua casta de
barro
o que corre em suas
artérias além do
salitre em
sua pátria de ouvido e
cal.
GÊMEOS
Esta língua materna.
Meu tempo
convencional
e o cotidiano
abrindo as asas.
Fome de pterodátilo
na palma de minha
mão
cigana.
A vida é essa folha
pontual pesando
sobre os pés
da planta.
ABAIXO DOS OLHOS, A ARTE.
Reacendo esta
chama
que do sol roubou
o risco e a asa.
Com ela reinvento
o verão e suas
antíteses
de euforia e deserto
(sua boca, seu
magma
recluso, seu raio
certeiro
amaciando a pedra)
Esta chama, outrora
tesouro da íris,
relicário,
fino pavio na goela
da China;
este delito de júbilo
e fome
– uma flor de
papoula
nascida no quintal
do templo –
de mim levou a mão
estendida,
a sorte que me
acolhe enquanto
durmo.
Esta chama,
este reduto de
sopros,
esta marca
na camisa.
Meu rosto
decepado
no retrato,
meu nome nos seios
da Monalisa
Nathan Sousa é poeta, escritor e dramaturgo.



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SENSACIONAL! COMPOSIÇÃO POÉTICA DA MELHOR QUALIDADE!
ResponderExcluirNathan Sousa é um dos maiores poetas que temos na atualidade. Parabéns!!! Parabéns à revista por revelar essas vozes tão únicas.
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