Três poemas de Nathan Sousa

6 pinturas trágicas e violentas que você sempre pensou que eram românticas  - NotaTerapia
(Oskar Kokoschka, reprodução)

 

SEDE


Plantei meus olhos 

no cimento 

das paredes.


As árvores dormiam. 

Eu via. 

E meus olhos

ardem e são cinzas. 

As paredes morrem 

pouco

a pouco como quem 

soluça. Eu queria 

dizer

algo sobre o tempo

e o pó. Alguma coisa

sobre

os abismos. 

Mas a 

boca seca não lança 

palavras

como quem cai. Não 

sabe de sua casta de 

barro

o que corre em suas

 artérias além do 

salitre em

sua pátria de ouvido e 

cal.




GÊMEOS


Esta língua materna.

Meu tempo 

convencional

e o cotidiano 

abrindo as asas.


Fome de pterodátilo

na palma de minha 

mão

cigana.


A vida é essa folha

pontual pesando

sobre os pés

da planta.



ABAIXO DOS OLHOS, A ARTE.


Reacendo esta 

chama

que do sol roubou

o risco e a asa.


Com ela reinvento

o verão e suas 

antíteses

de euforia e deserto

(sua boca, seu 

magma

recluso, seu raio 

certeiro

amaciando a pedra)


Esta chama, outrora

tesouro da íris, 

relicário,

fino pavio na goela 

da China;

este delito de júbilo

 e fome

– uma flor de 

papoula

nascida no quintal 

do templo –

de mim levou a mão 

estendida,

a sorte que me 

acolhe enquanto 

durmo.


Esta chama,

este reduto de 

sopros,

esta marca 

na camisa.


Meu rosto 

decepado 

no retrato,

meu nome nos seios 

da Monalisa





Nathan Sousa é poeta, escritor e dramaturgo.




curadoria e edição de marcos samuel costa
Variações revista de literatura contemporânea
2020

II edição

Comentários

  1. SENSACIONAL! COMPOSIÇÃO POÉTICA DA MELHOR QUALIDADE!

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  2. Nathan Sousa é um dos maiores poetas que temos na atualidade. Parabéns!!! Parabéns à revista por revelar essas vozes tão únicas.

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