DOIS POEMAS DE LUCAS COSTA

 

(Dorothea Lange)



1

 

Vem de longe dos subterrâneos

Vem por detrás do crânio e

Destroça de dentro a consciência

 

Vem de traços de rostos desertos

 

De viscosas formas deslizáveis

 

Deságua uma joaninha no espelho

Pintando o ar do quarto

Polindo os ossos com borboletas vivas

 

Deságua no vão livre da plataforma

Deságua em mim cada pé e cada rosto

O fogo efêmero de cada voz nômade

Que ocupa o Eu deserto

 

 

 

2

 

Uma cabeça destampada escreve no corpo

Percorre no corpo instalando sinapses

Os ossos pluggados nas pedras, nas árvores e nos silêncios

Fazendo vazar sensações  dos tubos pendurados em O2

 

Enviados pelos olhos às papilas gustativas que os transformam em cores.

Uma voz em forma de saudade baixa à partir da matéria que se foi

Antimatéria que dá forma a uma ausência

Dispositivo de afectos bombeados nas artérias do espírito

O homem – árvore acoplado ao desejo não é homem

É uma criança e um pássaro

É o corpo – engrenagem que faz passar desejo pelos póros

Infantis das vísceras sintéticas


(Thaynara Splicigo)



Lucas Costa nasceu em 1997, é escritor e estudante de Filosofia.


curadoria e edição de Marciel Cordeiro
Variações revista de literatura contemporânea
2020

II edição

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