05 poemas de Eleazar Venancio Carrias


(Henry Scott, reprodução)

ROMANCE 


Na primeira vez que me amou,
cortou-me a orelha esquerda.
Jurava arrancar minha vaidade:
Nunca mais usa brinco.
Na terceira vez,
ele me matou
com duas facadas nos rins.
Uma promessa que nunca levei a sério.
Quando acordei de minha morte,
meu corpo ainda tinha 
o cheiro da sua porra.


~*~


PRECE NA AVENIDA CENTRAL



Esses jovens morenos
que lavam carros ao sol,
perdoai-lhes, Senhor.
Perdoai-lhes ao menos
o ficar de costas nuas,
o andar de pés descalços.
Sobretudo, perdoai
o suor nos ombros largos.
Perdoai a indecência 
lançada à moça que passa.
Mas, ainda, perdoai:
que grosseira tatuagem!
(Sobretudo, perdoai
o suor nos ombros largos).


~*~


(Henry Scott, reprodução)


MITOLOGIA



Todas as coisas sólidas 
vibram ao som do teu nome
És um deus arremessado
contra as vigas de meu mundo


~*~


DOMINGO


Por ti, eu me tornaria um alcoólatra.
Sozinho – por ti – plantaria um campo de girassóis.
Ou de maconha.
Mas eu já sou da cachaça,
e tu não fumas a boa erva.
Não sei se agradeço ou peço trégua:
tu sempre me queres uma pessoa melhor.  


~*~


DIA SEGUINTE 


Tua falta é isto. 
O computador falha, a garganta falha, o choro se esquiva. 
Tua falta é uma bola de tênis no canto da sala.





Eleazar Venancio Carrias publicou os livros Regras de fuga (2017) e Quatro gavetas (2009), vencedor do Prêmio Dalcídio Jurandir de Literatura 2008, na categoria poesia. É doutorando em Educação na Amazônia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e mestre em Educação pela Universidade de Brasília (UnB). Vive em Breu Branco, Pará.


 Variações: revista de literatura contempôranea 

III Edição
Curadoria de Franck Santos
Edição de Marcos Samuel Costa
fevereiro LGBTQIA+ 
2021


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