VII ficções de Jackson Osvaldo

 

(Guy Veloso)


I


Sou mesmo,
naquela altura muda
de desmedir.


II


Sobre as minhas mãos,
a nuvem de ternura
dos seus olhos grandes
devora minha intenção.


III


Abri as venezianas por conta da dita visita. Preparei toda casa. Vesti-me de linho fino e da mais alta
prataria forrei os lenços. Afinal, chegara. Trazia duas tinas de azedume num lastro de tempo que
havíamos tecido na infância. Outras coisas trouxe também, como um filho e o esposo. Refém do
meu modo humano, estendi-lhes a mão e pedi que entrassem. Dentro, olharam tudo. Viram as
molduras do ano novo, os tercetos que apresentei e as traquinagens de Amora. Tudo ia bem, até ali.


IV


Nu,
as botas
desceram a montanha.


V


caí, dobrado, comum, terra
desde túmida consciência,
vagas no dia eu vi mudos
caindo também as sondas espacias,
as aeronaves, os sapatos,
os destroços de um tempo antigo
onde jaziam índios nus em pura lealdade.
caí, guarda, trapézio, água
foi naquela aventura de dizer
que nasci.


VI


Na verdade, eu nasci meio torto também. Não vim ser gauche e a vida, às vezes, me é um tanto
amorfa. Além disso, costumo lapidar o ar e ver, basalto das coisas que um dia jurei interstício, um
certo licor repleto de ângulos e curvas.


VII


Epíteto: derivação do ontem.





Jackson Osvaldo - Graduando em Engenharia Ambiental e Energias Renováveis (UFRA), Desenvolvedor Back-end (Python) e membro fundador da LohJa - Soluções em TI. Sou apaixonado por software e pela filosofia do Software Livre. Já atuei como prestador de serviço para administração pública gerenciando e manutenindo convênios firmados entre MEC/FNDE e município. Nada de relação com literatura, mas eu sou isso mesmo.



 Variações: revista de literatura contempôranea 

IV Edição
Edição de Marcos Samuel Costa
Março de Vozes Amazônicas 
2021



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