UMA LEITURA NUMA "PROCISSÂO DE PALAVRAS", LIVRO DE POEMAS SPINAS DE ANTONIO QUEIROZ - Por Ana Meireles



 UMA LEITURA NUMA "PROCISSÂO DE PALAVRAS", LIVRO DE POEMAS SPINAS DE ANTONIO QUEIROZ.


Um peregrino não desconhece que uma jornada só inicia após o primeiro passo. Assim, subentende-se que o autor de “Procissão de Palavras” iniciou o seu percurso como um peregrino promesseiro que decidiu sair de sua casa-alma para anunciar a palavra transformada no gênero poesia spinaísta. 

O vocábulo procissão remete de imediato à ideia de algo de natureza religiosa, o que não é o caso do Livro de autoria de Antônio Queiroz. Entretanto, não se afasta do significado de um caminhar, de uma andança nas asas das palavras como um viajante absorvido por imagens que deslumbram um mundo de significações e que se deixa levar, ir, pelas paragens dos lugares inspirativos de sua alma como os sentimentos e emoções.

Delonga-se algumas vezes nos passos feito um verdadeiro andarilho perscrutando o som de suas palavras-passos, estrofe de um poema, reconhecendo consigo,

               

 “Preciso de ânimo,
  Pujança, ao certo,
  Para fundar amores.”


No encontro das palavras abstrai conscientizando-se que,


“Ânimos quando se cruzam, tornam

 O viver de brilho repleto.”


Por isso, diz de si para si, como a recitar a estrofe de um poema-oração:


“Sigo, de bom grado, passos
 firmes, aquecidos de bons lençóis,
 luarando sóis com pronto fulgor.
Desato nós que me libertam,
herdando asas, grãos de amor.”


Depara-se o peregrino no seu caminhar, a sentir o mistério das palavras que lhe seduzem durante o trajeto. E não vacila, está convicto que,


“Movido pela fé

Encontro Deus em

meu crédulo coração.”


E se aquece do poema Monossílabo, como seguindo um melodioso percurso:


“Envidar teu bem,
zen me faz,
não em vão!
O que te traz pão,
sol ou som a ti,
a mim vem em grão,
com zil fés no céu,
tez dos pés no chão.”


Sente que,

“Caminho voando! Meus

passos são asas

no chão andantes.”


Neste Procissão de Palavras, o caminhar se faz sobretudo com os olhos do sentir que se movimentam em escuta anímica. Só assim pode ouvir PALAVRAS VAZIAS:


“Escuto a solidão

das palavras quando

nada eu digo.

Intriga-me seu penar vazio, embora

existam todas ebulindo em mim.

Das palavras, muito as bendigo,

nas páginas da noite que

escurece, dum livro velado comigo.”


E aqui finda-se o prazer de uma caminhada que deixa a indelével sensação de que se passou por diversas estações e em cada uma delas o afeto imiscuído nas palavras se fincou como elemento transformador tornando-nos, todos, leitores peregrinos em uma bela procissão.

                         




ANA MEIRELES - é poeta e cronista - nasceu em Icoaraci Distrito de Belém do Pará em um belo domingo de Páscoa como dito por sua querida mãe Leila. Atualmente é servidora pública com formação em psicologia pela UFPA. Tem diversos livros publicados, entre poesia e crônica, esse ano faz sua publica seu primeiro livro infantil. 




Variações: revista de literatura contempôranea 

V Edição
Edição de Marcos Samuel Costa
 2021

Comentários

  1. Parabéns, poetisa amiga, pelo texto e muitíssimo obrigado por divulgar o livro do talentoso amigo Antônio Queiroz.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas