04 poemas de Cristino Júnior
(manabu mabe)
RITMO
Depois da dor da perda
Fiquei mirando o silêncio
Com olhos gigantescos que não conversam
Porque da paixão resta a mínima palavra
Entre nós.
Talvez apenas essa época de saudade em ritmo de chuva
Levantando o cheiro de poeira na rua, na gente pensando
O que paira no tempo, pluma indecisa a cair
Como que se agarrando ao vento
Último beijo sussurrado, emoldurando a vida e suas possibilidades indivisíveis
A teimar em quem somos
Rolando da memória do que nunca seremos.
CONTRAMÃO
Tudo o que temos é falta:
De amigos
(translúcidos na contramão do tempo);
De amores
(esquecidos pelo fel de orgulhosos corações);
De pores de sol
(Onde secaram o rio e a poesia);
De bom senso
(O Brasil é uma democracia despolitizada pelos excessos).
RESSIGNIFICÂNCIA
Ainda balbucio teu nome em minha memória
Feito pacto de silêncio que ensina a viver.
Adeus
Que tuas palavras ressoem pelo tempo que julgas a eternidade de um amor, mesmo sem pronúncia.
Que teu orgulho não manche de violência e incredulidade os gestos que deste em dias de paz.
Que sangres por dentro apenas o suficiente para compreender que a vida tem valor e que alguns valores precisam ser revistos.
Que a distância não te torne um lugar insuportável para o pouso dos carinhos.
Que a solidão te povoe de sentimentos e humanidades.
Que o olhar vago não alcance mais que o além do horizonte e não te impeça de sonhar as incertezas do futuro.
Que tuas mãos, para sempre nos longes da saudade, estendam-se em aprendizagem e poesia para aqueles que delas necessitem.
Que teus desejos, mesmo os mais puros, convertam-se em força e abdicação diante da certeza de teus passos.
Que tua voz, ainda que calada, permita-te recitar o passado com identidade e gratidão.
Que teu adeus não provoque mais que lembranças, simples apertar de mãos.
E que a solidão te ensine o quão importante é o amor de tua própria companhia.
Cristino Júnior - professor de língua portuguesa e redação, pós-graduado em língua portuguesa (ESEA). É um dos coordenadores do Movimento Cultural Capimense (MCC). Publicou dois livros de poesia pela Editora Folheando: I Antologia Rio Capim (2019) e Ternas Sombras (2020), semifinalista do concurso Pena de ouro 2020 e 2⁰ colocado no XXIX Concurso de Poesia e Prosa da Academia de São João da Boa Vista 2021.
Variações: revista de literatura contemporânea
Parabéns, Cristino Junior. Teus poemas são sempre um resgatar de beleza a cada leitura.
ResponderExcluirParabéns sua escrita resplandece seu bom gosto.
ResponderExcluirParabéns meu amigo!!
ResponderExcluir👏👏😍Parabéns professor
ResponderExcluirÓtimo para nos distrair na leitura.
Obrigado, amigos! A literatura também poliniza o mundo!
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