Entrevista com Micaela Tavares
Entrevista com a poeta Micaela Tavares
A Revista Variações entrevistou via WhatsApp a referida escritora no dia 21/11/2021. Um dos objetivos é oportunizar vozes tão dissonantes como de Micaela Tavares e mostrar como a literatura contemporânea vem rompendo paradigmas.
Revista Variações:
Micaela, sobre o processo de criação do teu livro, quais influências trazes na
bagagem?
Micaela Tavares: Eu
escrevo porque leio. É fácil ver isso em qualquer poema meu, eles são
absolutamente influenciados pelo que trouxe de bagagem de certa forma. Sempre
me identifiquei com a escrita da Ana C. Cesar, foi uma grande primeira
referência para mim. Hoje esse canal se amplia, durante o processo dos livros
conheci também muitos poetas contemporâneos que me enchem os olhos. Posso
nomear como fundamentais nesse processo: Matilde Campilho, Adélia Prado,
Alejandra Pizanik, Cecilia Pavón, Mário Cesariny, Audre Lorde, Hilda hilst,
Leticia Novaes, Angélica Freitas, Yasmin Nigri, Aline Miranda e tantos outros.
Além das influências literárias, sei que a minha bagagem também se preenche
pelo visual. O “tenho reparado nos ipês pela cidade” não me deixa mentir.
R. V.: Como sentes que o
público lidou com o livro? Como foi o retorno sobre a obra?
M. T: É gostoso demais
ser lida. A partir do momento em que alguém se tocou com algo que escrevi, postou
ou simplesmente veio de dizer que gostou/desgostou (porque acontece rs), me
sinto concluir algo. Acredito que o “Tenho reparado...” foi um começo, um
impulso, não me sinto mais a mesma, nem na vida nem na escrita e estamos
falando de um livro que foi publicado há poucos meses e tudo bem! A gente vai
se conhecendo e moldando algo que pode dissolver sempre que der.
R. V.: Como tu enxergas a
obra hoje depois de publicada? Mudaria alguma coisa? Mexeria em algum poema?
M. T.: É forte, mas
mudaria tudo e como não posso, vou lançar outro livro (risos). Mas digo isso
porque, como disse anteriormente, me sinto em constante mudança e a escrita só
não celebra mais quem sou agora e tudo bem porque celebrou a Micaela do passado
e isso que importa.
R. V.: Como tu se
enxergas como poeta? Quais os desafios da tua geração como escritora?
Eu tenho vinte e um anos
e é complicado sair por aí, com título de poeta, estou me acostumando pouco a
pouco porque o que nos vem à cabeça quando pensamos em um poeta é um cânone e,
claro, essa visão precisa mudar. Sou poeta porque escrevo e me dedico à poesia.
Sou poeta porque quando algo me toca, sinto a necessidade visceral de escrever
sobre aquilo. É um processo.
R. V.: Qual tema teu o
livro aborda? E quais caminhos te levou a essa escolha?
M. T.: Tanto o “tenho
reparado nos ipês pela cidade” (2021) como o “Falésia” (2021) traduzem meu
cotidiano. Acredito que tudo que é exposto com uma sinceridade intima tende a
ser causador de reconhecimento, de identificação. Lembro que li a Matilde em
Jóquei (2014) e sentia que a conhecia porque parecia que estava lendo a
história dela em poemas, uma intimidade falsa como é de praxe na literatura de
Cesar também. Ambos os livros possuem essa ideia, trazer para intimidade e
mesmo assim não perco minha privacidade porque a poesia tem a delícia da
metáfora como escudo.
R. V.: Achas que a
Revista Variações colabora para a promoção da produção LGBTQIA+?
M. T.: Claro! Foi a
primeira revista que me abriu as portas para publicar e foi onde tudo se
encaixou. Acredito que precisamos é incentivar cada vez mais espaços assim, é
onde a gente se esbarra e se reconhece.
Micaela Tavares é da ilha de São Luís do
Maranhão, graduanda em Direito na UEMA e Pesquisadora voluntária em direitos à
comunidade LGBTQIA+. Recentemente publicou poemas nas revistas Quatetê, Variações,
Mallamargens, Kuruma’tá, Adiante, Totem&Pagu e Cassandra, além da
publicação da Antologia Digital “Nós que aqui estamos – Nordeste" da
Editora Arrelique. A publicação do seu primeiro livro “Tenho reparado nos ipês
pela cidade” pela Editora Folheando foi lançado em maio de 2021.
Variações: revista de literatura contemporânea
Sou apaixonada pela escrita e pela sensibilidade da Micaela 💕 sem dúvidas minha poeta preferida!
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