rua dos lírios e outros poemas de Marfê



sério, Cartola?

sério, Cartola? ainda é cedo?

acho que já conheço o necessário da vida, mesmo sabendo que minha vida já caiu algumas vezes nessas esquinas da cidade.

é de se espantar de como eu posso ser cínico, só para me proteger da agressividade social. imaturo? talvez, mas funciona. esse mundo realmente é um moinho, mas acho que já me fortaleci, porque eu mostro minhas vulnerabilidades sem ter vergonha. espero que entenda, Cartola.


rua dos lírios

e se eu ainda morasse na rua dos lírios? bom, acordaria e veria pela janela do meu quarto a neblina matinal, ainda teria o sotaque do interior de SP, continuaria sendo muito próximo da Stephannie e da Camila, ainda comeria o churrasco no pão francês com vinagrete e pimenta, ainda seria muito fã de pão de mel da padaria no início da rua das orquídeas, bom, não sei...

a nostalgia é real, o lindo é que vivi tudo isso, meu passado é lindo...


 

LÍDIA

 

Lídia, o seu piano está lhe chamando
Minha maior pianista
“Eu te amo” que me salva
Alegra meu dia
O que é o oxigênio comparado ao nosso abraço matinal para a minha sobrevivência?
Sempre fala "Meu poeta"
Com a senhora o fim é um mito
O difícil é frágil e se quebra na esperança
Sorria, Lídia
Eu saí de uma biblioteca de livros ricos e maternos
Saí de um piano preto com sons infinitos
Saí de discos atemporais vagando no afeto divino
Saí da força mais intelectual que possa existir no meu mundo
Saí de Lídia
Negra rainha dos olhos castanhos escuros e da pele de pêssego mais macio e doce
Lídia me cria, me criou e me ensina a resistir
Hoje eu sou um suporte para o meu suporte
Lídia, enxergo o seu evoluir
Sinta o meu coração cantar a grandiosidade do meu amor por você
Lídia, feliz aniversário
Lídia, eu te amo
Minha mãe, Lídia

 

Beijo neon

 

o teu beijo foi neon aqui na minha alma
iluminou o escuro do meu quarto
me fez melodia até no silêncio
mas quebrei o espelho que refletia a ilusão do teu amor
teu beijo foi neon, a cor era marcante, chamativa e viva
como algo tão poderoso vivia em algo tão vazio?
respirei fundo e me limpei com a água da razão
hoje sou opaco

 

Sem o teatro

 

Sem o teatro
eu sou oco, vazio e amargo
Sem o teatro
eu erro os passos, eu engulo sapos, minhas mãos começam a suar
Sem o teatro
eu não esboço um sorriso
Sem os ensaios
eu entro em vários labirintos
Sem os aquecimentos
eu viro polar
Sem os aplausos
o "por que?" aparece
Sem os 3 toques do sino
eu não acordo
Sem as cortinas abertas
eu não apareço
Sem o público
eu não existo
Sem o roteiro
eu não falo
Sem os assentos marcados
eu me perco
Sem o teatro
não há espetáculo


Felipe Gabriel - Marfê (22 anos):

Felipe Gabriel, estudante de administração da UFMA, busca intensamente enxergar a vida por uma ótica mais poética possível para aliviar-se do cotidiano caótico de um jovem adulto preto nordestino a partir de seu pseudônimo Marfê. Poeta que aborda várias situações com a sua singularidade artística, tem muito a agradecer ao teatro, sua primeira casa da criatividade, em que dos 13 aos 15 anos viu suas habilidades se expandirem até receber o prêmio de melhor ator em um festival cultural. Marfê nasce a partir de sentimentos reprimidos e da revolta pelas injustiças que fazem do mundo, um lugar mais pesado, manifestando-se juntamente com a fúria e a beleza do mar.



Variações: revista de literatura contemporânea 

VI Edição - todas as vozes
vozes que rompem  
Edição de Marcos Samuel Costa

2021

 

Comentários

Postagens mais visitadas