3 poemas de Carlos Orfeu

Exposição da fotógrafa Alemã Grete Stern (Grete Stern)

 

 

domingo

 

 

kafka e café

os lábios caminham

no irremediável

sussurro

 

a palavra

afaga o território

exausto do corpo

 

atiça

o abismo que

deseja um pulmão

sopro e cinzas

 


 

 

 

 

piano fire

 

para Mark Linkous

 

 

 

o piano com suas

patas em chamas

 

galopa no íngreme

espaço de um grito

 

suas mãos são

duas tarântulas

 

tecem com veias

acordes de sangue

 

nas suas sonâmbulas

feridas no avesso da luz

 

  

 

                                   aos pedaços

 

uma cabeça: um braço esquerdo: uma perna direita:

você não recorda em qual guerra e tempo seu corpo

começou a ser mutilado: às vezes o único nome que vem

à sua memória é o daquela espiã argentina que você fez

um esforço para ser um esquecimento

nada mais que um esquecimento

 

você já se perguntou quantos nomes se tornaram vento

para a perna que ainda lhe resta: caminhe

 

atrás dos seus ombros: pequeno movimento das árvores

cinzentas: pássaros cortam o espaço com o voo:

prédios perduram em pé e furam o céu vermelho

 

olhe para você: suas muletas mal suportam

o peso de sua mutilação sejam elas suas angústias

fantasmas: gritos cravados na sua carne

 

você olha os rostos que caminham

aos pedaços : crianças muitas crianças

esboçam um sorriso: correm e esbarram

em seu corpo: às vezes você lembra de sorrir

 

 

 

3 Poemas de Carlos Orfeu – Revista Acrobata

Carlos Orfeu, nasceu em Queimados
Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.
Publicou Nervura (2019), Invisíveis
Cotidianos (2020) ambos pela editora Patuá,
Ramagem Pulmonar ( 2021), Editora Poesia Primata. 





Variações: revista de literatura contemporânea 

VII Edição - todas as vozes

vozes que rompem  
Edição de Marcos Samuel Costa

2022

 

 

Comentários

  1. Uma poética que desacomodas os leitores e deixa no ar o perfume das metáforas. Viva, poeta Orfeu

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