3 poemas marinhos – Gyzelle Góes

 


orla

 
entrevejo o seu fronte marinho
repousado no vidro tépido
dos meus olhos salinos
 
que paisagem chovediça
você abandonou
sob a minha janela!
.
 
mas não faz frio
não me esbraseia
o que eu sinto neste instante
é o aroma das orlas
 
o seu corpo rolando
abraçado à areia do meu bojo
os pés eufóricos, vermelho
o aspecto da orla do seu beijo
 

 

lastro

 
neste dia luminoso guardo
o cheiro das tuas mãos
 
a memória o que é
se não um artifício carbonizado
 
e eu que zelo
pelo teu nome
à margem
o meu corpo de vela
e eu que não durmo
a duas vidas velo o teu lastro
 
o que somos nós
se não a suspeita de uma naufrágil
 
 
 

 
a concha e o mar        
 

a coragem é sobretudo
o que não digo
o lapso do verbo
 
a prudência
ao colocar o poema
em torno do (mar)
 
no fundo abordar
as coisas que não diria
em seu ouvido
 
o oceano quieto
ao lado de uma concha:
a firmeza de ecoar em seu interior
 
através de um ruído                
 

(o que fizemos das nossas delicadezas, folheando 2021) 




Gyzelle Góes é poeta, carioca, nascida em 1994. Autora de Amante (Urutau, 2019) e de O que fizemos das nossas delicadezas (Folheando, 2021). Formou-se em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e está cursando o mestrado em Literatura, Cultura e Contemporaneidade (PUC-Rio). Atualmente, trabalha com pesquisas sobre arquivos pessoais, poesia contemporânea, edição e ilustração de livros. 


Variações: revista de literatura contemporânea 

VII Edição - todas as vozes

vozes que rompem  
Edição de Marcos Samuel Costa

2022

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