04 poemas de Caio Bulla

 

Calmaria

 

toda e qualquer brisa

parecia desaparecida

como chamar calmaria 

se dá medo de morrer

antes de ressentir

 

qual a surpresa

de o vento voltar

a ter dedos

pontas dos dedos

afastar meus cabelos

e sussurrar

por onde você andava

e assoviar 

uma canção de reencontro

e zunir

reclamações de abandono

 

por que me pergunta

se a resposta está no seu sopro

eu não sei

também tenho me questionado

sobre minhas janelas fechadas

do que elas me mantêm a salvo?

 

sem saída

coabitei

meus silêncios 

meus vazios

meus sumiços 

um limbo oco

de mim mesmo

 

agora sinto

impulsos de preenchimento

uma nova resistência

porvir de fôlego suficiente

para emergir de águas passadas

mover ventos fracos

em redemoinhos


 

Fazendo verão 


nos fios em frente ao meu portão

descansa uma legião de andorinhas

 

não que elas me incomodem

mas jogo pedras em sua direção 

 

é melhor andar na linha

ou voar em desordem?


 

***


não sei qual olhar devo dirigir

aos malabaristas do semáforo

me constrange o papel de julgador

merecem moedas 

ou baldes de água fria?

nem sempre tenho as moedas

 

tenho é meus próprios malabares

mas pouco talento

ao jogá-los pelos ares

passo mais tempo 

recolhendo os cacos

 

no fim da tarde tudo penso

o que merecem é ter às mãos

e sobre a mesa

o necessário

sem ter que equilibrar as contas 

nesses tempos de sinal fechado


 

***


a palavra ejo

em quiniaruanda

significa

ontem e amanhã 

ao mesmo tempo

como não pensei nisso

até hoje?

 

porque são mesmo

o mesmo tempo

o tempo do não ser

o tempo intocável

 

ejo

o contrário do presente

e nada mais presente

do que o desejo

ávido

 

ejo 

ontem e amanhã

o desejo

um não passado

um não futuro

urgência

de um ejo diferente

 

o ejo

ao não ser tempo

é o próprio tempo

do desejo

 



 CAIO BULLA nasceu em 1991, em Maringá-PR.Graduado em Direito, é servidor público na cidade de Palmas. Seu livro de estreia, “afiado, asfixiado, aficionado” está em pré-venda pela Editora Folheando. Tem poemas publicados no blog Poesia na Alma.



Variações: revista de literatura contemporânea 

VII Edição - todas as vozes

vozes que rompem  
Edição de Marcos Samuel Costa

2022

Comentários

Postagens mais visitadas