seis poemas de Hugo Guimarães

 






01.

Mesquinho de mim
Ao ter em mente
Um apodrecimento
Tão limpo
Mas não pensei
Na decomposição
Eram 200 corpos
Em decomposição
Em um porão.

02.

Eu só consigo me lembrar
O quanto fui explorado e violentado
Porque lembro que eu ainda estava lá
Quando as torres gêmeas caíram.

03.

Lamento, Morris
O funeral
E estás ainda aqui
Em carne e osso
E roo em uma tigela.

04.

Lágrimas
Caindo em cima de um prato de leite.

05.

“Palco”
Espero que você quebre uma perna de verdade
Espero que você se cubra de merda.

06.

A vida cerrou-se
Em arquipélagos de ilhas desertas
Nunca saí daquela em que nasci
Hoje as águas são muito quentes
E por isso, perigosas
Houve um tempo
Em que as águas não eram tão quentes
E eu sempre fui preso
No meu calabouço cibernético
A porta sempre aberta
Não necessariamente,
É uma chave que te prende
As malditas montanhas de rocha
Não derreteriam minhas asas
Não derretem minhas asas
Anjo.





Hugo Guimarães é um escritor prolífico paulista. Poeta, contista, cronista, romancista e roteirista.
Publicou o livro de poemas “Poesia gay underground: história” (2008, ed. Annablume), o livro de contos “O Estranho mundo” (2013, ed. Edith), o romance “O Tiro de um milhão de anos” (2015, ed. Pasavento), vencedor do proAC em 2014 e o romance “Igor na Chuva” (2019, ed. F.R.) menção honrosa no prêmio programa nascente da USP em 2017.



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