04 poemas de Ana Meireles




OLHOS NEGROS 


Desejo imenso é o de mergulhar 

Nestes teus olhos negros 

Que parecem distante mar...


Um sonho acalento toda vez ao acordar

Ver-te perto, ainda que tão longe do meu olhar

Serena alegria sonhando experimentar entre a alforria do meu solitário divagar.


Sinto em meu corpo a febre que me toma e como doutras vezes, faz delirar. 

Bebo um mundo de palavras, todas bem arrumadas no livro inconstante das minhas emoções. 

Nele escrevo todas as dores e as flores que jamais aspirei. 

Inalo o cheiro inebriada pelas cores que a Luz do sol desencobriu.

Ah, como agora sou feliz, a sombra que tantas vezes me atingiu, se evadiu...

Reconheço-me agora na claridade que prateada emana da lua.

Sinto a sua placidade quando sob as nuvens, a sua beleza transfigura...

Silenciosa na plenitude da imensidão escura onde as estrelas brilhando lhe saúdam como a rainha da madrugada. 

A que inspira poesia de mais de mil palavras, dama dos poetas...

Só por ti rende-se a estrela-maior, o grande Sol, a mergulhar em infinito mar para te ver redondamente bela na escuridão que te eleva e cativa os amantes a sussurrar com extenso ardor, todos, que sentem e sabem a poesia apreciar. 

 
VERSO COR DE PAIXÃO 


Cansar, não canso

Da pontinha de olhos

Onde brilham imprevisões 

De reveses ao tédio.  


Gasto horas olhando

Fingindo jamais ver

Aquelas duas contas

O intenso desejo de ler. 


No meu sonho deserto 

És uma pequena janela, 

Luz que fulgente adentra. 


Orquestra novas palavras 

Aparta da inanição 

O meu verso cor de paixão. 


OLHOS DE INVERNO 


Teus olhos de inverno 

Beijaram minha face

Onde a pele seca

Bebeu o toque terno. 


Na alma a voz que reclama

A largura de mais um dia

Em que a chuva cai e molha

Enquanto os pés à dança, clama.


O vendaval se anunciou e passou 

A música ressoou nas paredes

E o corpo então relaxou...


Na dança da dor, foram

dez passos pra lá, outros dez pra cá 

Pendor que o Amor enxugou...


CANÇÃO PARA LEILA 


Nela amava o amor

O jeito especial de se dar

Sem da vida nada esperar

Da caridade vinha seu vigor. 


Amava simplesmente o amor

Porque amava no olhar de ver

De fazer o mundo compreender

Que dores são lições a transpor. 


Vivia a falar a mesma linguagem 

A poesia mansa de todos os dias

Do amor comparado a melodias

Transcendência e metalinguagem. 


A certeza ventilada na alquimia

De fazer, de cumprir o seu dever

Ser verbo, mistério a subscrever

Os afetos que amorosa exprimia. 




ANA MEIRELES - é poeta e cronista - nasceu em Icoaraci Distrito de Belém do Pará em um belo domingo de Páscoa como dito por sua querida mãe Leila. Atualmente é servidora pública com formação em psicologia pela UFPA. Tem diversos livros publicados, entre poesia e crônica, esse ano faz sua publica seu primeiro livro infantil. 


Variações: revista de literatura contemporânea 

VIII Edição - Vozes que não
 param de gritar  
Edição de Marcos Samuel Costa

2022

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