04 poemas de Déborah Arruda
dandy
guardo agulhas
a sutileza do descaso
anseio pelo que nem é
e declaro certa predileção
por esse que mal sabe
que mais do que em
olhos, beijos, pernas
flerto com a possibilidade
de aprisionar em punhos
homens que me ligam à sua maneira
e usam comigo pedras nas mãos
mesmas que já me envolveram a cintura
cheiro corre
e nos bastidores da memória
nem mesmo penso no prejuízo de dizer-lhe
que antes de ser mulher
sou fiel aos meus apetites.
cartografias
ainda o sal na língua
adentrar um sebo
outro velho museu
voyeur do que já sei
salivar o beijo alheio
pôr o dedo na cicatriz da minha intuição
sentir a temperatura do corpo subindo
a dose de tiquira às três da tarde
34 graus
tatear a cidade
ver o mundo de cima
refundar minha própria geografia
no fundo do corpo de um homem bonito
não é você
sou eu
esse lugar de partir
voltar e saber
por mais ontológica
é apenas o generoso gesto de dar à liberdade
a chance de ser mais que um cacoete.
fia
(à
minha avó e outros fuxicos)
decorar uma palavra
pôr berloque
tentar vagonite
ponto russo
crochê
ornamentar
iluminar em neon
lavar mil vezes
torcer
deixar secar ao sol
e ainda assim
nada disso realmente enfeita
limpa
suaviza
o teor que contém
C A N S A Ç O
quando se trata de um país.
dia
útil
17:45
o sol se pôs
a anunciar
a noite acumulada dos dias
resignada escrevo
teu nome a intitular
infinitos poemas
ou
25 blocos de notas
cheios de retóricas perguntas
que só servem para compreender:
todas as notícias
sobre ti
já me são velhas demais.
DÉBORAH ARRUDA
Mulher.
Desde 1993 nascida, criada e nutrida pelo sol e pelo solo de São Luís do
Maranhão. Cientista social, pesquisadora e escritora. Adepta a vícios antigos e
à poética do desconforto. Demasiadamente emocionável. Escreve sobre tudo o que
escapa ao choro e à própria verborragia.
Variações: revista de literatura contemporânea
param de gritar
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