04 poemas de João Gabriel Brito
AO HOMEM
Eu nada poderia contra os
homens
que não sabem gritar,
são fortes os corações
desses homens.
Meu coração não tem
virtude,
se repuxa pequeno,
tem receios tantos,
grita quando sente
te perder.
É forte o teu coração.
Planta,
colher de terra,
a noite se aproximava
naquele dia e regamos
juntos o quintal
quando, entre guardar o medo
e me sentir seguro,
eu percebi que te amava.
Ninguém nos ensina a ser
filho,
a ter um coração em que se esconder.
que não sabem gritar,
são fortes os corações
desses homens.
se repuxa pequeno,
tem receios tantos,
grita quando sente
te perder.
colher de terra,
a noite se aproximava
naquele dia e regamos
juntos o quintal
quando, entre guardar o medo
e me sentir seguro,
eu percebi que te amava.
a ter um coração em que se esconder.
Aprendi a calar
e calado eu nunca perguntei
se aquele olhar era tristeza
ou reprovação,
eternizei em mim as duas certezas:
a de que eu era amado,
a de que eu era rejeitado.
E te amei ainda mais.
Os retratos e poemas por
aí estão,
eu não escondo
que te amo e que me orgulho,
que a minha vida é tua
como nunca será de mais ninguém.
Eu tentei. Ainda tento...
e calado eu nunca perguntei
se aquele olhar era tristeza
ou reprovação,
eternizei em mim as duas certezas:
a de que eu era amado,
a de que eu era rejeitado.
E te amei ainda mais.
eu não escondo
que te amo e que me orgulho,
que a minha vida é tua
como nunca será de mais ninguém.
DISPERSO E DISTANTE
À vacilante paz desta
hora,
sucedem pequenas, monótonas, agruras,
e o céu queda no pensamento,
a temperamental agonia se espraia.
Vejo o invisível que se perfila
e demora:
chama verde e brinquedos e formatos decaídos
entre os prédios e a hora amanhecida,
o desencontro e o deparo se alternaram.
O tempo, aqui, sentido,
impassível,
confrange os homens e as mulheres
nos séculos, e na poeira,
na realidade
imprevista do existir.
Os operários do certo e
do incerto
desgastaram sonhos no moinho da consciência,
as nuvens acinzentadas de novembro malquerem
os dispersos e os sonâmbulos:
dia e hora eu não sei, mas a mágoa tangível
recordo e humanamente desfaleço do sonho.
sucedem pequenas, monótonas, agruras,
e o céu queda no pensamento,
a temperamental agonia se espraia.
chama verde e brinquedos e formatos decaídos
entre os prédios e a hora amanhecida,
o desencontro e o deparo se alternaram.
confrange os homens e as mulheres
imprevista do existir.
desgastaram sonhos no moinho da consciência,
as nuvens acinzentadas de novembro malquerem
os dispersos e os sonâmbulos:
dia e hora eu não sei, mas a mágoa tangível
recordo e humanamente desfaleço do sonho.
Os homens sempre estão
sozinhos.
Se o invisível e o percebido recobrem a verdade,
Em que restará, o humano, na hora em que o juízo pesar
e a vida, indiferente em si, agastar?
A resposta (desvelo e
dúvida eterna)
virá das janelas fechadas, malogradas
entre paredes turvas; virá de cada vida
que se ocultou dentre outras dezenas,
centenas, milhares de vidas,
da própria vida que é forma inanimada,
reflexo torto e sombreado hasteado às vidraças.
Sístole - diástole -
sístole - diástole
não - sim - não - sim - não:
o órgão sublime repuxa,
a perceptiva memória decai;
anjo, roseira, efêmero, edifício, o precipício,
o derradeiro… tudo se separa e se confronta,
vejo formas humanas entre sonhos refletidos,
vejo equivalências no indiferente que sobressai.
Ainda cessarão os fatos
certos de cessar,
amanhã, o nascer de horas acontecerá
como sempre aconteceu e terminará
como sempre terminou.
A conformidade é premissa.
A desordem também;
A vida, senhores, é tempo se esticando:
Disperso e distante, ainda assim tempo
Se o invisível e o percebido recobrem a verdade,
Em que restará, o humano, na hora em que o juízo pesar
e a vida, indiferente em si, agastar?
virá das janelas fechadas, malogradas
entre paredes turvas; virá de cada vida
que se ocultou dentre outras dezenas,
centenas, milhares de vidas,
da própria vida que é forma inanimada,
reflexo torto e sombreado hasteado às vidraças.
não - sim - não - sim - não:
o órgão sublime repuxa,
a perceptiva memória decai;
anjo, roseira, efêmero, edifício, o precipício,
o derradeiro… tudo se separa e se confronta,
vejo formas humanas entre sonhos refletidos,
vejo equivalências no indiferente que sobressai.
amanhã, o nascer de horas acontecerá
como sempre aconteceu e terminará
como sempre terminou.
A conformidade é premissa.
A desordem também;
A vida, senhores, é tempo se esticando:
Disperso e distante, ainda assim tempo
TATO
Comprazidas do essencial
as mãos desdobram o fato.
O avesso da coisa é o
ser.
Um corpo tocando o outro
é a forma que se encontra.
Dedos,
Ásperos,
Canoros,
Inventam o tátil acontecer,
o real é também o imaginado.
O corpo pulsa quando
encontra,
Os seres são de barro e o barro pensamento.
as mãos desdobram o fato.
é a forma que se encontra.
Ásperos,
Canoros,
Inventam o tátil acontecer,
o real é também o imaginado.
Os seres são de barro e o barro pensamento.
COMPANHIA
É minha essa voz que nada
quer dizer, som mudo entre a
pedra e o sono.
é minha a mão seca e
defunta que não
entrelaça, nem afaga.
O meu olhar, manso,
tardio,
invernal, divisa a ponta
da estrela distante,
sonhando infinitos
passados.
Disseram-me que não tenho
idade para pensar,
mas eu penso,
faço obra de minhas distâncias,
pervago essa tristeza,
invento motivos para
não ser quem não sou.
No céu de entranhadas
vontades,
vejo caminhos que se cruzam entre estrelas,
entre aurora e arrebóis, em nenhum me atenho,
fico soberbo, calado à meia luz,
sou sempre o que pensa e pensando
me desfaço.
O menino que eu fui
apascenta
o homem que eu sou:
trago distâncias internas à vida,
e respiro a carne, o essencial,
e acresço, humano, cansado:
No fino exame da incerteza
repouso memória.
quer dizer, som mudo entre a
pedra e o sono.
defunta que não
entrelaça, nem afaga.
invernal, divisa a ponta
da estrela distante,
sonhando infinitos
passados.
idade para pensar,
mas eu penso,
faço obra de minhas distâncias,
pervago essa tristeza,
invento motivos para
não ser quem não sou.
vejo caminhos que se cruzam entre estrelas,
entre aurora e arrebóis, em nenhum me atenho,
fico soberbo, calado à meia luz,
sou sempre o que pensa e pensando
me desfaço.
o homem que eu sou:
trago distâncias internas à vida,
e respiro a carne, o essencial,
e acresço, humano, cansado:
repouso memória.
Variações: revista de literatura contemporânea
VIII Edição - Vozes que não
param de gritar
param de gritar
Edição de Marcos Samuel Costa
2022
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