Álbum e Outros poemas de Milton Rosendo

 

(Vitória de Samotrácia)

ÁLBUM

 

 

Regressa do Hades –
                                  aos pés calcados asfódelos –
la vie sauvage a sua vertigem infinita – uns claros e escuros
à Caravaggio a sua alma triste –
             é sempre noite em sua cabeça –
uma jornada inteira de trabalho
pensar sobre o amor –
                                     não voltar para casa é escrever um poema
 

 

 

JE VOUS ÉCRIS D’UNE ABSENCE

 

 

Entre as rasuras, lê-se:
 
      Em nome de uma discursividade nova, o que me encanta
são os desencontros,
o que uma mente magnética, entre milhares de outras,
à custa de um número infinito de desordens,
consiga restaurar de certa noção de beleza em dias cinzentos.
 
O peso da quota subjetiva importando menos
do que as pulsações do metrônomo.
 
Uma lua sobre pergaminhos d’água
ferve ao ponto mais escuro do olho.  
 

 

 

 

UM MÉTODO
 


- o olho do peixe, vítreo,
compactando oceanos;
o zumbido de vespas,
algo como uma fúria;
 
uma tesoura perfazendo
um mapa através da seda;
um som de harpa abrindo
íntimos relâmpagos;
 
assim seja o dizer,
como o belo e o nulo
na órbita centrípeta da flor.
 

 

 


Milton Rosendo nasceu em Maceió, Alagoas, no ano de 1974. Seu livro de estreia, Os moinhos, foi lançado em 2009. Sete anos após, em 2016, publicou seu segundo livro de poemas, Caos-totem. No ano seguinte, 2017, participou da coletânea Amores ébrios, juntamente com outros nomes da literatura alagoana. Em 2021, publicou, pelo selo Trajes Lunares, Azul como um rottweiler, seu terceiro livro autoral. Teve alguns de seus poemas musicados e é roteirista de histórias em quadrinhos.




Variações: revista de literatura contemporânea 

VIII Edição - Vozes que não
 param de gritar  
Edição de Marcos Samuel Costa

2022

 

 

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