O4 poemas de Cléo Rodrigues

 

(Elza Lima)


A CULPA É DE QUEM?


Vivi gritou dentro de casa.
Grito estridente, puro pavor!
Nas pernas sangue, no rosto lágrimas,
Dilacerada, marcas do horror.
 
Vivi passou dias limpando.
Esfregou tanto que a pele ardeu.
Banhos sem fim, roupas compridas,
Se afundou tanto, não mais floriu.
 
Vivi menina, Lulu, criança, tia Dalila, triste final.
Não era a roupa, batom ou jeito, sistema imundo, cruel, fatal.
 
Tem alvo certo, gênero exclusivo, tal armadilha patriarcal.
Mata mulheres de 0 à 100, misoginia estrutural.
 
Quantas de nós são oprimidas, violentadas só por nascer?
A existência é um perigo, de quem é a culpa quando eu morrer?

 

Lute Mulher


Posso contar se tudo vi, da violência sobrevivi.
Fugi da morte patriarcal, impiedosa e estrutural.
Parei de andar, perdi direitos, mas se a lei cala, Maria fala!

Grito os horrores que agridem a alma, o Estado omite, não quer que eu grite!
A violência é social, ideológica e cultural.

Mas ouça irmã, não andas só, olha pro lado, olha ao redor. São tantas outras que juntas marcham, pedem Justiça e rompem o laço. Da intolerância machista imposta, Maria da Penha abriu a porta.

Direito a vida sem violência, aqui se mete a tal colher, vem pro combate e te liberta lute, garota! Lute mulher!

 

  

ESPERANÇAR NESSE CHÃO


 

Há um arquipélago esquecido e longínquo
Ao qual precisa de intervenção
Que encha o prato vazio do ribeirinho e desenvolva a nossa região.
 
Pois o abandono parece castigo, por essas bandas tudo é desigual, saúde e estudo parecem até mito, falta investimento na área social.
 
Mas olha mãe encontrei uma arma!
Poderosa, libertária e real.
Dessa vez vou trocar a espingarda
e a peconha largar no quintal.
 
Me chamam de caboclo rude e ignorante,
quando foi que esse fardo herdei?
Desde criança aprendo muitas coisas, hoje adulto só ler que não sei.
 
Mas dessa vez, conheci pajé sábio
Um professor, pai da educação.
Se a nossa sina até hoje é o trabalho
Um livro certo será a solução?
 
Larguei o remo, peguei a caneta
Dei liberdade pros dedos falar
O alfabeto dançou no caderno
A vida agora só vai melhorar.
 
E neste rio não me chamam de rude
Transmito a herança que vi e conheci.
De analfabeto, não tenho mais nada, se hoje educo é porque um dia aprendi.
 
Eu, ribeirinho vou citar umas verdades,
Não li nos livros mas na vida real.
Ser pobre hoje é um projeto cativo
Que prende o povo num sistema imoral.
 
Venha comadre, compadre e vizinhos, pegue sua arma e coloque nas mãos,
Papel e caneta ouça Freire gritando: liberdade de pobre é a educação!
 

A Tal politicagem



Minha rua tem asfalto que afunda ao pisar.
Uma moto descansando é um risco de virar.

Teve grana e investimento mas nada municipal,
mas tem povo que aplaude porque não sabe da real.

Só engana os ingênuos e os puxas saco de plantão,
Mas atento estão os outros que esse pó não engana não.

Pode asfaltar, até cobrir que a cidade está parada.
Só movimenta a economia de uma certa panelada.

Abre olho meu amigo que não dá pra renovar, essa corja que saqueia e não para de... (pode rimar).

Rouba sonho e crescimento de um povo especial que merece um descanso e compromisso social.

Quer mudança? Então planeje e observe os candidatos.

Valorize o seu voto pra não ser mais enganado!

 

 

MENSAGEM


A mensagem do dia é: mova-se!
Abrace as oportunidades e desafie a si mesmo.
Permaneça somente nos lugares onde você é bem quisto.

Lembre-se:
Não está satisfeito com o agora, movimente-se! Você é dono das suas escolhas, mude por você, seja sua prioridade.

Fuga nem sempre é covardia, teu destino não é estático, mas mudar a direção requer coragem e ação.

Que horizonte você escolheu vivenciar ao longo dos anos?





Cléo Rodrigues, 35 anos, nascida às margens do rio Canaticu/Curralinho.

Sou mãe, esposa, enfermeira na área da saúde mental e cofundadora do Movimento Filhas de Leila.

Escrevo um pouco de tudo, relatos sobre a vivencia marajoara dentro do contexto regional, saúde mental para ribeirinhos, maternidade, sobre as violências enfrentadas pelas mulheres, contexto sócio político, mas de forma que os conterrâneos se enxerguem dentro desse processo. São rimas, textos ou poesias críticas.

Os textos que envio são carregados de sentimentos, estatísticas, dores não elaboradas e ausência do poder público, mas tem também o esperançar coletivo que rega nossas ideias e fortalece as lutas marajoaras.



Variações: revista de literatura contemporânea 

I X Edição - Mais Brasil que nunca
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2023

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