Natais - Paulo Nunes.
Desceram num recanto escuro do porto do Sal.
Migraram da terra onde pistoleiros expulsaram seus sonhos. Balas e botas que destroçaram a horta que nascia,
tudo porque aqui em se plantando tudo dá.
Migraram da terra onde pistoleiros expulsaram seus sonhos. Balas e botas que destroçaram a horta que nascia,
tudo porque aqui em se plantando tudo dá.
Ele José, ela Maria.
Aquel@ que ia nascer,
se menina: Madalena.
Se menino: Nazareno.
Um espanto,
Maria era a vida contraindo seu ventre
e calcanhares infantes pediam para ver o sotaque do sol de Belém,
a capital da acidez, das mangas e dis-que afetos.
Ninguém os afagara
(não havia ali recepção aos que chegavam?), cia de turismo nem nada:
só lixo, muito.
Sim, punhado de farinha,
queijo de coalho,
água de moringa os sustentava.
Do pouco que conseguiram, sumiram no barco alguns caraminguás, a bolsa?
Era lugar mais limpo... Afanados, de novo.
Onde ir agora, meu Deus, onde?
Moço, sabe onde se possa passar essa noite?,
O outro sequer parou para ouvir,
resmungou e seguiu.
Era miudinha a esperança como os pingos da chuva que sorriam nos telhados.
Era no tempo do hoje
(Belém sem chuvas não faz natais)...
e o presépio? a luz esperava na escuridão...
até que se ouviu a melodia da pastorinha Filhas de Jerusalém.
Paulo Nunes - poeta, professor e pesquisador.
Quanta honra
ResponderExcluir