Estacionamentos e deslocamentos urbanos - Gutemberg Armando Diniz Guerra

 



Estacionamentos e deslocamentos urbanos


Gutemberg Armando Diniz Guerra

Engenheiro Agrônomo


Os estacionamentos nas cidades tem sido cada vez mais amplos e cada vez mais escassos. O volume de carros aumentou muito e os estabelecimentos comerciais tanto quanto as construções residenciais procuram reservar sempre um espaço privilegiado para esse fim, mas a quantidade dos veículos aumentou tanto que isso tem parecido um desafio insuperável. Pior de tudo é que apesar da disponibilidade de vagas que os estacionamentos oferecem, a largura das mesmas permitem que se coloque ali apenas o carro e, se tiver outro ao lado, fica impossibilitada a saída do motorista por falta de espaço para essa movimentação. O problema é tão sério que finda sendo resolvido pela utilização de duas vagas por usuário principalmente se os carros forem utilitários e mais largos do que os modelos mais populares e modestos. A interpretação de um dos valetes em um dos estacionamentos em que estive é que os carros modernos são efetivamente mais largos, como se estivessem sofrendo de obesidade mórbida. Considero que podem haver outras hipóteses e variáveis plausíveis como a espaçosidade dos motoristas e tripulantes, ou ainda a precária habilidade de cada condutor.

Em casas comerciais recém intaladas nos bairros nobres de Belém se utilizam os espaços de antigos jardins e quintais, reduzindo as áreas verdes na cidade cada vez mais revestida de concreto e cimento. No centro histórico e bairros mais antigos os casarões vem sendo demolidos internamente, mantendo-se as fachadas como máscaras lúgubres e transformados os espaços em estacionamentos rotativos, com preços que parecem compensar mais do que qualquer outro investimento que venha ali se fazer para recuperar e dar outro sentido ao patrimônio arquitetônico. 

Ocorrem modificações nos centros comerciais que complicam mais ainda a vida dos que usam carro como indumentária. Um dos shoppings centers mais frequentados e mais antigos da cidade teve uma modificação curiosa. O estacionamento amplo, subterrâneo para quem entra por uma das ruas e no nível do terreo para quem entra ou sai no nível abaixo, em outra rua, são interligados e fazem parte do mesmo complexo de lojas. Entretanto, um dos estabelecimentos comerciais do complexo shopping se autonomizou, decretou sua independencia e, embora se possa ter acesso a todo o complexo comercial por onde quer que se entre, há espaços para pagamentos das vagas em caixas distintos. 

O detalhe que chama a atenção é que o estacionamento passou a ser cobrado por duas pessoas jurídicas diferentes, de maneiras que quem entrar em qualquer um dos estacionamentos subterrâneos, embora possa acessar todas as lojas, tem que saber a quem deve pagar, sob pena de ficar perdido lá pelos porões daquele território de disputas entre as empresas proprietárias dos estacionamentos. Mais curioso ainda é que ao entrar em um deles supondo poder chegar de carro mais perto de um restaurante que fica naquele subsolo, fomos surpreendidos pelo bloqueio. Utilizando o tempo de tolerância, tentamos sair daquele estacionamento para entrar por outra porta que nos permitisse estacionar mais perto do restaurante e... a catraca nos falou que a nossa saída não estava autorizada. Tentei sair pela pista da entrada mas a estreiteza do acesso não permitia e não havia como retornar. Fomos obrigados a procurar um catraqueiro para nos liberar. 

A explicação dele é de que tinha um jeitinho de colocar o código de barra para que o acesso fosse permitido. Ora, imaginem só! Um código de barras que tinha um código secreto para ser acionado! Ao tentar demonstrar o jeitinho, o funcionário foi surpreendido pela mesma mensagem que tinhamos recebido. Ele, como nós, tentou várias vezes. Não conseguiu e pediu que eu recuasse o carro para sair da linha de reconhecimento da leitora. Assim fiz e ao retornar para a frente da catraca, depois de mais algumas tentativas, ela se abriu. Felizmente foi em um momento com pouca movimentação! Imaginem isso em hora de fluxo mais intenso...

Outro evento curioso é que se abrem pistas para veículos magricelos como motos e bicicletas e para isso, os estacionamentos dos trambolhos automotivos estão sendo deslocados para o meio das pistas, estreitando os espaços de rolamento dos paquidérmicos ônibus e veículos motorizados. O tempo de deslocamento se amplia e cada vez mais vai-se acentuando a quantidade de pessoas que se deslocam em mototaxis e bicicletas, dando à metrópole um ar chinês ou indiano.

Estou cada vez mais convencido a andar pé, de ônibus, de uber, de taxi e abandonar essa prática de vestir o carro e sair para locais em que eles não são personasr gratas.

Comentários

  1. Parabéns, meu caro Prof. Dr. Gutemberg Guerra, ao cronista de mão cheia! O assunto é complexo e por isso mesmo instigante, bem característico de muitos dos nossos problemas da modernidade. É o olhar arguto do cronista a ver, a um só tempo, as belezas e as complexidades do cotidiano que ao olhar comum passam despercebidas. Gostei muito.

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