Esperança de vida - Gutemberg Armando Diniz Guerra
Esperança de vida
Gutemberg Armando Diniz Guerra
As estimativas para o tempo de vida variam
para cada sociedade e se constituem como parâmetros estatísticos indicadores de
maior ou menor desenvolvimento dos grupos sociais e etários avaliados. O termo
utilizado para essas estimativas é expectativa de vida, o que abomino porque
sempre prefiro associar expectativa ao desejo, à esperança e sempre com um
sentido positivo, o que não me parece anunciar o verbete estatístico.
Se procurarmos em qualquer instrumento de
busca vamos achar esse dado para todos os países do mundo. No Brasil, a
expectativa declarada pelo órgão oficial é de 75,5 anos sendo que nessa média
as mulheres contribuem com 79 e os homens com 72 anos. Durante os anos da
pandemia esses números baixaram uma vez que a mortalidade incidiu tanto em
pessoas jovens quanto em adultos e idosos, mas há uma tendência de aumento
depois daquele evento tenebroso ao qual sobrevivemos e podemos contar para os
nossos filhos e netos como foi triste presenciá-lo.
O fato é que viver já foi muito mais
perigoso e temporalmente reduzido para os seres humanos da antiguidade,
situando-se em torno de 30 anos a média para os homens das cavernas e durante
muito tempo depois, apesar das melhorias de condições de habitação, alimentação
e informação. Esses números mais do que dobraram ao longo da história da
humanidade por conta dos avanços na medicina e na sabedoria acumulada para
driblar as intempéries da vida.
Ouvi muitas vezes minha mãe dizendo que
não esperava passar dos 60 anos, uma vez que tinha visto seus ancestrais
chegarem ao fim no máximo nessa idade. Ela mesma foi até os 98 anos e a maioria
dos seus irmãos vai ultrapassando os 80, indicando uma impressionante superação
estatística da geração anterior. E aqui deve-se considerar um fator genético ou
cuidados importantes uma vez que nossa genitora chegou a esse ponto depois de
deixar no mundo 12 filhos que vai superando o limite do que eram expectativa dos
da geração dos seus pais. O meu pai viveu 84 anos, tendo sido fumante na maior
parte de sua vida, o que nos dá uma esperança de vida familiar de 91 anos, se
fizermos a média entre nossos genitores.
Entre nossos colegas de turma de Agronomia
formados em Cruz das Almas, os que resolvemos enfrentar o desafio de nos reunir
anualmente para celebrar a vida, estamos ultrapassando a faixa dos 70 anos, em
que pese termos presenciado a partida apressada de alguns contemporâneos
desencarnados por acidentes comuns à profissão como os desastres
automobilísticos nas estradas do mundo rural brasileiro, e outras ocorrências
comuns aos que avançam na idade. Fazendo uma conta breve, os resistentes ainda estão
ganhando na corrida de vencer o tempo de validade que as estatísticas nos estão
dando se considerados os desvios padrões.
Fazendo uma busca rápida sobre o que dizem
os estudiosos desse assunto, verifica-se a incidência repetitiva de que o
recorde de longevidade estaria nos 122 anos, mas que há uma tendência cada vez
maior de povos considerados desenvolvidos aumentarem a população dos que
ultrapassarão as médias estimadas em torno dos 90. Baseado nisso, tenho
intimamente sido otimista, criando eu mesmo minha esperança de vida para uma
linha para lá da infinitude centenária. Para isso, sigo à risca o que dizem os
médicos que consulto religiosamente para controlar as taxas de colesteróis,
triglicérides e outros nomes bem menos comuns e de domínio apenas dos
especialistas. Contrariando os que juntam argumentos extravagantes para esbanjarem
a gula, luxúria e preguiça, tenho procurado fazer uma alimentação saudável,
praticar atividades físicas e evitar costumes desgastantes para os que tiveram
a sorte de chegar onde cheguei e do jeito que ainda me mantenho em pé e serelepemente
me movimentando nesse conturbado planeta.
Ao
chegarmos nessa idade, entretanto, não devemos mais ficar a fazer conta – e
olhe eu me contradizendo - pois que mais do que nunca devemos estar certos de
que já chegamos no que seria o limite da média dos outros e de que jamais fomos
donos de nosso tempo. Mais do que isso, que deva ficar bem claro que
expectativa de vida para os estatísticos é um conceito sem rosto, sem
personalidade e sem nome. Para cada um de nós esse termo referencial deve ser
urgentemente substituído por outros mais alvissareiros como esperança,
otimismo, felicidade, celebração e encontros com uma memória de tudo o que
pudemos e poderemos ainda fazer e repetir para nos perpetuar na vida dos que
nos cercam, descendem ou dependem de nossos humores e trajetórias ancestrais.
Não nos rendamos à tristeza nem à
depressão acreditando ou dando corda para que outros pensem que nosso tempo
está acabando. Nunca se sabe qual será o tempo de cada um e nem quanto tempo
ainda teremos, se mais ou se menos de qualquer um dos que conosco partilham
esse mundo. Mais do que isso, o ser humano se vê eterno em todas as crenças que
professa, alterando apenas o nome que dá a seus estágios.
Por piores que sejam as desgraças que
apocalipticamente venham caindo sobre nós, vivamos a brindar sempre, em alto e
bom som, como nos tempos em que as alcoílas nos animavam nos bares e festins da
juventude mantendo-nos embriagados pela vida que ainda mora em nós: não
morreremos!
É uma boa reflexão.
ResponderExcluirHá poucos dias tive uma conversa dessas com o meu pai!
Um brinde a vida e à longevidade!
Calidez é o termo que me veio à mente, após essa leitura. Tratar finitude humana e estatística com essa sutileza não é tarefa fácil. Acrescentou muito aos meus conceitos sobre o tema. Escreva mais!
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