Artigo de opinião: O NOVO RADICALISMO DA EXTREMA DIREITA - Manoel Moacir Costa Macêdo; Manoel Malheiros Tourinho; Gutemberg Armando Diniz Guerra²

 


Guarnica. Pablo Picasso


O NOVO RADICALISMO DA EXTREMA DIREITA¹



Manoel Moacir Costa Macêdo; 
Manoel Malheiros Tourinho; 
Gutemberg Armando Diniz Guerra²


A Escola de Frankfurt, surgida na Alemanha, formada por pesquisadores das Ciências Sociais, perseguidos pelo Nazismo na II Guerra Mundial, e exilados nos Estados Unidos, trouxeram contribuições à interpretação da teoria marxista em bases conceituais renovadas, sobre a mudança social. Escola de pensamento filosófico e sociológico, busca explicar os conflitos de origem política. Os seus principais autores foram Max Horkheimer, Theodor Adorno, Jürgen Habermas e Axe Honneth. Desses, apenas Harbermas e Honneth continuam no plano terreno, como testemunhas desse legado, depois de mais de setenta anos passados. 

Analisaram e denunciaram algumas estruturas de dominação política, econômica, cultural e psicológica da sociedade. Num viés critíco, mostraram a capacidade destrutiva do capitalismo, com o seu poder de neutralizar a consciência política, a crítica e as rupturas sociais. No campo da democracia, merece relevância a obra “A personalidade autoritária” de 1950, isto é, mais de sete décadas passadas, liderada por Theodor Adorno. Em expressivo conteúdo teórico, escreveram que “toda democracia possui a sua franja lunática”, isto é, ela conserva um “sedimento de pessoas eternamente não-ensináveis”. Isso ocorreria, “porque a democracia permaneceu formal e não se concretizou em lugar algum”. Em outras palavras, a democracia prometeu muito, e ofereceu pouco. Uma utopia, aberta às experimentações, que merecem vigilância.

Chama atenção, o atual avanço da extrema direita na Europa. Fenômeno, não é por acaso e nem construído pela modernidade, mas um movimento com raízes sociais que não foi destruído no século passado. O extremismo da direita, não foi extirpado nem pelas agruras da II Guerra Mundial, nem as suas feridas foram cicatrizadas pelas perfurações do Nazismo e do Fascismo. Ele sobreviveu ao estado-do-bem-estar-social e a social democracia, alimentada pelas incompletudes do modelo capitalista de produção, numa metamorfose do tipo “ovo da serpente”. Muda a forma sem alterar a substancia, ao promover, pela intensa propaganda, a ilusão de que o nazi fascismo enseja mais eficiência que o liberalismo e a democracia, ou seja, a ordem dos fatores não altera o produto, guardado cuidadosamente com medidas de exceção.

Adorno, adverte que em consequência, “foram aparecendo movimentos antissemitas, grupos racistas e anticomunistas, [tanto quanto] radicais de direita, que contêm algo de ‘fantasma de um fantasma’ - precisamente porque são o sintoma de um processo social que está bloqueado”. O gatilho do desbloqueio foi construído sorrateiramente, no contexto das liberalidades da própria democracia pelo extremismo de direita. Mídias sofisticadas, intelectuais, partidos políticos, organizações e financiadores, agiram nos subterrâneos de um mundo majoritariamente marcado pela democracia e pela religiosidade.  
Evidências impulsionadoras da ascensão do extremismo de direita, estão postos. Algumas identificadas, outras em abstração, com destaque às ruínas da globalização e a abismal desigualdade entre globalizados e globalizadores e as migrações dos deslocados de seus territórios e pressões sobre a Europa e os Estados Unidos, os poderosos do planeta. Tementes de rebeldias e medo do revés do que chamam de terrorismo islâmico, reforçando preconceitos perante os mulçumanos e a ressurreição do comunismo, que nega o individualismo e exalta o coletivo.  

Os surpreendentes ganhos da extrema direita, não são os seus obscuros métodos, mas o emprego dos fundamentos, até então avaliados como consolidados pelo Iluminismo, a exemplo do estado democrático de direito, e da liberdade de expressão.  Mas, se reconhece em qualquer instância, a “crise do estado” em suas variadas dimensões. Entretanto, qualquer que seja a instituição política a tirá-lo da crise, deve ser em bases populares e democráticas, que prática se afasta das correntes e estratégias da extrema direita. A crise que regurgita na classe trabalhadora tem claras identidades. Não se trata de fatores despersonalizados; que passa das mãos do povo aos movimentos sinistros, encapsulados nas figuras de ditadores europeus como Mussolini, Hitler e Franco.

O recente crescimento dos partidos políticos da extrema-direita na Europa nas eleições do parlamento europeu na combatida Comunidade Europeia, acende a chama libertária: “democratas do mundo uni-vos”.



¹ Trata-se de um artigo de opinião, e por isso exprime o ponto de vista de quem o escreve, e todo artigo de opinião é assinado pelos seus autores, de modo a demonstrar que as ideias expressas são estritamente pessoais.
²Os autores, são engenheiros agrônomos, e respectivamente PhDs pela University of Sussex, Inglaterra; University of Wisconsin, Estados Unidos; e École des Hautes Éstudes, França.

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