Entrevista com Aramyz

 











   foto de: Tatiana Lima




Entrevista concedida por Aramyz para Marcos Samuel Costa da Revista Variações em 16 de julho de 2024.




01 - Aramyz, nos fale um pouco do teu processo de escrita. E além disso, nos fale também de ti, quando está escrita começou e por que ela começou? 


Escrevo pensando em história, identidade, acredito que é preciso deixar documentos, falar das dores de uma parcela social. historicamente sabemos, quando se quer destruir uma sociedade, é melhor começar destruindo a cultura desse povo. sei que pode parecer loucura falar sobre isso, mas se você for ver, essa consciência  está desde minha primeira escrita. "só as hienas matam sorrindo", atendeu a chamada antifascista da Editora Urutau, pra coleção  Burguês Assustado, o livro  veio num momento político importante do país, um momento que eu chamo de pedagógico, onde a sociedade acordou definitivamente, onde lados foram evidenciados. na ditadura, a arte teve um papel importante, basta ver a música, o cinema, as novelas. o artista, seja em qual campo estiver atuando tem que saber que está criando um documento histórico, o documento social de uma época. quando vemos um programa de humor onde as piadas são politicamente incorretas, isso é importante, você vê aquilo e pensar, nesses dias as pessoas falavam assim e ninguém falava nada, a sociedade não se manifestava contra, vários eram ofendidos, vários eram feridos, vários choravam, enquanto só uma parcela de "favorecidos", coloca o favorecidos entre aspas, ria, e porque? porque ofendia este e aquele. piada boa, é piada que todo mundo ri. perceber isso é criar consciência política, transformar a arte num retrato social. quando decidi escrever de verdade, depois de ter sofrido violência por causa da minha escrita, um fato que bloqueou meu processo por muitos anos, foi pra gritar, eu precisava colocar pra fora o que sufocava, o que ardia, queimava.


02 - Como a homossexualidade se manifesta na tua escrita e como a tua escrita se manifesta na sexualidade? 


Não penso sobre isso quando escrevo, e acho complicado atrelar a escrita de determinado autor a sexualidade dele, escrevo sobre seres humanos, escrevo sobre o que me incomoda. acho que estou nesse lugar, o lugar do incomodo. até agora tive a grande sorte de encontrar editores maravilhosos. eu não seria hoje um escritor sem as duas pessoas que chamo de pais literários, minha mãe Débora Rendelli e meu pai Tiago Fabris Rendelli que aceitaram publicar e continuam publicando minha escrita e de tantos outros sem se preocupar com cor, credo, orientação sexual, pra eles o importante é que seja uma boa literatura. como leitor, penso o mesmo.


03 - Nos fale do seu novo livro de poemas, quais percursos, caminhos de escrita, tempo de escrita?


Estou lançando ao mesmo tempo dois livros de poesias, "suicídios diários", pela Editora Urutau, que chamo de triunfo do fracasso, já que é um livro auto biográfico, de um assunto que só agora me sinto preparado pra trazer a público, minha constante depressão e minhas tentativas de suicídio, e que a Débora Rendelli chamou de um livro pra comemorar minha vida, e "aqui não falamos sobre isso", que foi um dos vencedores do Prêmio Variações de Literatura Lgbtqiap+ e que também está ligado a algumas dores. o "suicídios diários", venho escrevendo desde que tive o primeiro pensamento suicida, a primeira vez que fracassei como suicida. difícil falar sobre um assunto tão tabu socialmente né. mas necessário, e "aqui não falamos sobre isso", idem, tem um poema sobre suicídio nele, e ele fala de suicídios sociais, então o tempo de escrita é esse, o de todo dia. nos dois livros estou tão bem acompanhado que tenho motivos pra viver pra sempre. no "suicídios diários", além da quarta capa trazer um texto da Débora, trás a orelha do Tiago, e o prefácio da poeta portuguesa Maria Azenha. no "aqui não falamos sobre isso", só gente que eu gosto e admiro também, a orelha do Josias Benedicto, o prefácio do Marcos Samuel Costa, e e edição do Douglas da Editora Folheando, editora que publica os autores vencedores do Prêmio, e que tem sido um príncipe comigo, extremamente cuidadoso,  atencioso e paciente, porque sou muito chato e detalhista. fugi de tudo nessa pergunta e respondi tudo né. tá valendo?
Espera aí, quero continuar a resposta. estou lançando um outro também, que na verdade é do ano passado, mas estão acontecendo lançamentos esse ano, olha isso, eu abandonando um filho, o "estranho seria se você soubesse", esse livro foi finalista do primeiro Prêmio Caio Fernando de Abreu, o livro tem a orelha do Marcelino Freire, o prefácio do Marcos Gomes, o posfácio do André Fischer e a ilustração da capa gentilmente cedida pelo Alex Flemming, pela Editora Laranja Original, esse é um livro de contos.


04 - Buscas uma experimentação ou tua escrita é naturalmente fluída, livre e rebelde?


Sou meio rebelde por natureza, não consigo escrever em casa, tem o Tico, o gato que eu paro qualquer coisa pra dar atenção pra ele, tem geladeira, música, TV, tudo isso me tira o foco, só consigo escrever nos coletivos, sem barulho algum e próximo de pessoas que não conheço, é estranho, pois é, sou neuropático, portador do TEA, Transtorno do Espectro Autista, tenho pavor de barulhos, uso meu isolador de ruidos, pego metrô, ônibus e trem para lugares desconhecidos e deixo fluir, às vezes não vem nada, mesmo assim me obrigo a escrever pelo menos uma linha diária.


05 - Quais tuas principais referências no processo de escrita desse novo livro?


Todas as referências possíveis, tudo que leio vira referência, leio muito, aproximadamente 50 livros por ano, quanto as referências em toda minha literatura, digo que são três, Plínio Marcos, Mário Bortolotto e Marcelino Freire.


06 - Indicarias uma playlist para esse novo trabalho?


Playlist "aqui não falamos sobre isso": 

- Indestrutível - Pablo Vittar
-  Androginisnismo - Almério
- Avesso - Jorge Vercilio 
- Nobreza - Djavan 
- Emoções - Wando
- My funny Valentine - Nico 
- Dream a litle Dream of me - The Mamas & The Papas


07 - Onde comprar teu livro novo?


Site da editora Folheando:

https://www.editorafolheando.com.br/pd-96e166-aqui-nao-falamos-sobre-isso.html?ct=&p=1&s=1





Comentários

  1. Aramyz é um querido que faz a sua escrita nos envolver ao ponto de termos junto a ele o lugar de fala . Obrigado por cada book novo que faz para nós alegrar mais e mais. Conte sempre comigo para estas aventuras 😃

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  2. Não conheço as obras do autor, mas a entrevista foi muito sóbria falando sobre suas obras e seu processo de escrita

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