Dois poemas de Pedro-Francisco Tembe

 

 Felipe Ferreira, Sem título, da série Cada casa, 2021

 


 

 
O CRENTE
 
 
Não creio na justiça
sou um homem comum
pobre de fé e de espírito
 
Sou a mulher torturada
sou a criança faminta
não creio na justiça
 
Creio na dor do meu povo
na ignorância do meu povo
creio na galinha e no ovo
 
Não creio na justiça
sou um animal político
sou um cidadão fodido
 
Creio na dúvida apaixonada
no gozo desperdiçado
não creio na justiça
 
Creio em quem dobra à esquina
creio no cu e na vagina
não creio na justiça.
 
 
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RESSENTIMENTO
para Ricardo Domeneck
 
 
Tanto esforço
para arrancar
da própria carne
os tijolos certos
Tanto engenho
para colocar
de pé o poema
Você vem
e lhe sapeca
três palminhas.

 






Pedro-Francisco Tembe nasceu em Macala, no norte de Moçambique, em 1986. Aos três anos de idade, sua família migrou para o Brasil, estabelecendo-se em Belém, onde ele veio a estudar Ciências Sociais na Universidade Federal do Pará, diplomando-se em 2011. É professor de sociologia e militante dos direitos dos animais. Ainda vive. No bairro da Pedreira, na mesma Belém.



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