Assédios, seduções e violências - Gutemberg Armando Diniz Guerra



 


 

 

Assédios, seduções e violências


Gutemberg Armando Diniz Guerra


As formas de abordar, incomodar, assediar, envolver e seduzir são cada vez mais variadas e complexas para se repelir e livrar com eficácia. Para utilizá-las os seus autores têm tramas e armadilhas que provocam primeiro a curiosidade e vão até que o alvo esteja completamente comprometido, enredado, envolvido e se sinta ou seja mesmo incapaz de se livrar.

Os assediantes são os mais diversos, indo desde instituições financeiras oficiais e privadas, empresas de comunicação, promotores de vendas dos mais variados produtos e serviços, militantes de todos os matizes, até parentes, amigos e os golpistas de plantão. Ser possuidor de um aparelho celular e estar nas redes sociais mais comuns torna as pessoas muito vulneráveis a todos os tipos de ataques para as induzir a comprar pacotes de tudo o que supostamente trará apenas felicidade. Preservar a privacidade se torna cada vez mais difícil e raríssimas são as pessoas que conseguem se manter fora do ambiente virtual promíscuo e sujeito às investidas.

Os termos designativos das estratégias de abordagem se sofisticam e se tornam, eles por si sós, elementos de sedução como se agregassem valores culturais e pessoais. A ingenuidade das pessoas se deixa vender barato por uma suposta inteligência artificial, seus gostos se denunciam em sítios de busca por produtos específicos ou genéricos. Uma simples demanda de informação virtual ou o aceite a uma oferta gratuita pode detonar o gatilho de uma avalanche de propostas promocionais intermináveis, variáveis, alternadas por nomes de vendedores das mesmas empresas. 

Os argumentos oferecendo vantagens, bônus, pontos, abatimentos, dinheiro vivo ou outras vantagens se acumulam e insistem muitas vezes ao dia e à noite, varando madrugadas, minando o esgotamento da paciência ou o ato falho que leve a um sim que escravize o cliente a uma fidelização que o submeta a cláusulas infindas de remota alforria. O sibilar das palavras atiça o desejo, a ganância, a luxúria, a gula, a inveja, a ira, a preguiça e a prepotência que cada um carrega. “Imperdível!” “Realize o seu sonho!” “Oferta exclusiva!” “Aproveite!” “A hora é essa!” “Última oportunidade!”

Não há leis nessa guerra selvagem por dinheiro e lucro, seja lá de que jeito for. Crianças na mais tenra idade têm seus cérebros e matrizes cognitivas alterados, viciados, estuprados e com lesões irreparáveis. Idosos se desesperam por não saberem lidar com isto que surgiu de uma hora para a outra e tenta condicionar comportamentos consolidados há décadas. 

As empresas que produzem essas tecnologias e as lançam no mercado, atingindo cifras astronômicas, com benefícios, é certo, mas com danos incontroláveis, estão livres de penas ou ao menos de controle do que fazem inescrupulosamente com seres humanos de todas as idades, ideologias, etnias, gêneros e cores. 

A maioria das pessoas não sabe como lidar com essas amarras que entram em suas vidas, expulsam os interlocutores reais e impõem diálogos com máquinas que têm respostas limitadas às indagações das mentes confusas por tantas inovações em tão breve tempo. Os jovens, seduzidos por essa mágica, se sentem no máximo do poder porque são mais capazes de lidar com esse mundo do que seus pais e avós.

Há quem defenda regras mais severas para o acesso e uso das modernas tecnologias. Um debate intenso, pesquisas avançadas e demonstrações dos males demandam terapia e cuidados especiais principalmente com as crianças e os jovens que se viciam facilmente em ilusões virtuais que se convertem em liberação de dopamina e os cooptam para viverem fora da realidade.

O uso e abuso das tecnologias da informação tem definido eleições municipais, estaduais, federais e continentais. A manipulação da mente humana estabelece conceitos novos para ignorância, violência, liberdade de expressão e outros parâmetros de interpretação do mundo.

O cuidado, precaução e conhecimento se fazem necessários para que os desejos mais legítimos do ser humano não sejam vetores da sua própria desgraça. Não consigo fazer previsões de quando acontecerá uma regulação dessas geringonças que pouco a pouco se transformam em verdadeiros grilhões de alienação e dominação! O pior é que não sei também até onde eu mesmo conseguiria viver sem essas amarras... 




Variações: revista de literatura contemporânea 

XII Edição, ano III - lâminas, línguas e Eros

Edição de Marcos Samuel Costa

2024

Comentários

  1. Nunca li tantas verdades em um mesmo local, escrever não é fácil ainda mais sobre os assuntos exposto fica muito mais difícil, só alguém com tamanha destreza na escrita faz com maestria, parabéns professor Gutemberg.

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