ENTREVISTA COM DAVID EHRLICH



Entrevista concedida por David Ehrlich para Marcos Samuel Costa, da Revista Variações, em 08 de agosto de 2024.

 

01 - David, fale-nos um pouco do seu processo de escrita. E, além disso, conte-nos também de ti, sobre quando a sua escrita começou e por que ela começou?


Creio que desde que me apaixonei pela leitura, quando ainda era criança, apaixonei-me também pela ideia de um dia eu poderia ser um escritor. Já aos 10 anos, inclusive, realizei minhas primeiras tentativas de escrever um livro, mas ainda não tinha a maturidade necessária para tal tarefa, e nunca terminava nada do que começava.

Foi só a partir dos 21 anos que comecei a levar a escrita realmente a sério. Foi quando, pela primeira vez, tive um conto selecionado para uma coletânea, organizada pela Biblioteca Pública do Paraná. Nunca havia sentido tanto orgulho de mim mesmo quanto no dia do lançamento do livro, com encontro dos autores e cerimônia de autógrafos. A partir daí, percebi que meu antigo sonho de criança podia se tornar realidade, e nunca mais parei de escrever.

 

02 - Como a sua escrita se manifesta, quais caminhos, tempos de escrita e pausa, quem é o escritor David Ehrlich?


O escritor David Ehrlich é obsessivo. Para mim, um dia sem escrever ao menos uma página, seja de um conto, de um poema, de uma crônica ou até romance, é um dia perdido. Mesmo quando chegava cansado após um dia inteiro de trabalho, preferia perder algumas horas de sono a perder um dia de escrita.

Tal obsessão, admito, não vem sem certa dose de culpa, por tantas vezes que a escrita acabou ficando no caminho de outras coisas importantes – trabalho, compras essenciais, até mesmo simplesmente aproveitar a vida um pouco, sair, socializar. A verdade, porém, é que sou profundamente apaixonado pela escrita, uma paixão de muitos anos que nunca esfriou. E diga-me, quando somos verdadeiramente apaixonados por algo, é possível resistirmos ao seu chamado, apesar do custo?

 

03 - Fale-nos do seu novo livro, quais percursos te levaram até ele ou como ele chegou até a ti?


“O Livro do Macabro” surgiu lentamente ao longo de mais ou menos três anos. A partir do começo da pandemia, comecei a participar mais intensamente de concursos literários, principalmente de contos. Com isso, pude começar a me entender melhor como autor, que gêneros, temáticas e estilos mais me interessavam. Nisso, um gênero que gradualmente começou a se destacar foi o terror: percebi que escrever histórias com temáticas mais macabras era para mim quase terapêutico, uma forma de “colocar meus fantasmas para fora”.

Ao mesmo tempo, conforme também começava a assistir a mais filmes de terror, percebi que esse gênero tem um enorme potencial – o qual, infelizmente, ainda é muito subestimado – de explorar questões psicológicas e sociais ao longo das eras: nos anos 60, por exemplo, temas como a emancipação feminina e revolução sexual estavam em alta, praticamente todo mundo os discutia, e o terror, seja na literatura ou no cinema, soube contar histórias que dialogaram maravilhosamente bem com eles. E esse é apenas UM exemplo, não me peça para dar outros porque senão esta entrevista viraria uma dissertação (risos).

De qualquer forma, tudo isso fez com que eu me encantasse por escrever histórias de terror, usando-as como uma forma de melhor expressar o que me assombra e minhas visões de mundo. Então, no começo deste ano, quando vi que a Editora Folheando estava com uma chamada aberta para originais, resolvi reunir alguns dos meus contos favoritos, organizá-los de uma forma que para mim soa coerente, e enviá-los. Qual, então, não foi a minha alegria quando soube que havia sido selecionado?

 

04 - Buscas uma escrita que se aproxime do que ou que se afaste do quê?


Busco uma escrita que tente contar histórias interessantes, ao mesmo tempo que as use como veículos para expressar aquilo que não consigo de outra forma. Sempre fui extremamente tímido, até hoje tenho dificuldade em falar o que penso, seja por temer ser inconveniente, achar que ninguém vai se importar, ou não conseguir lidar com contra-argumentos. A literatura, assim, acaba sendo para mim o meio pelo qual consigo dizer aquilo que não conseguiria de outra forma, cuidadosamente encaixado em meio a uma história que, ao leitor desatento, ou que não me conheça bem, pode parecer comum, mas que está cheia daquilo que me torna “eu”.

 

05 - Quais são as tuas principais referências no processo de escrita desse novo livro?


Claro que tenho minhas referências literárias quando o assunto é terror (adoro os livros de Stephen King, por exemplo), porém minha principal referência, não somente neste livro, mas em toda a minha literatura, é o cinema. Sou tão apaixonado pelo cinema quanto pela literatura, e muitos dos meus contos fazem diálogos entre as duas artes. Há várias referências a filmes de terror clássicos ao longo de “O Livro do Macabro”, mas não vou contar todas aqui, vocês que estão lendo esta entrevista é que terão que descobri-las (risos).

 

06 - Terias alguma indicação de playlist para esse novo trabalho?


Sendo o cinema uma inspiração tão forte para o meu livro, sugiro uma playlist formada por trilhas sonoras de filmes como “Psicose”, “O Bebê de Rosemary” e “O Silêncio dos Inocentes”, que inspiraram vários dos meus contos.

 

07 - Onde comprar teu livro novo?


No momento, ele encontra-se em pré-venda e com lançamento previsto para agosto, durante a Bienal do Livro de São Paulo. Quem tiver interesse, porém, pode já garantir seu exemplar no site da Editora Folheando: 

https://www.editorafolheando.com.br/pd-96e01c-o-livro-do-macabro.html?p=1&s=1.


David Ehrlich nasceu em Detmold, Alemanha, em 1996, e desde os três anos, vive em Curitiba - PR. Já na infância era amante dos livros e dedicava-se vorazmente à leitura, seu passatempo predileto. Atualmente, com graduação concluída em Jornalismo pela UFPR e especialista em Narrativas Visuais pela UTFPR, dedica-se também à escrita, transitando pelas pontes desconstruídas da literatura e aventurando-se na produção de contos, poemas, vídeo-poemas, crônicas, ensaios e textos acadêmicos, sempre em constante aprendizado. Além da literatura, é amante do cinema, dos animais e da música. Em 2017, foi premiado em seu primeiro concurso literário, promovido pela Biblioteca Pública do Paraná, com o conto Barbatanas. De lá para cá, já teve textos selecionados em diversos prêmios e publicados em revistas e antologias, tanto impressas quanto digitais, entre elas 15 Formas Breves (Biblioteca Paraná, 2017), Nemephile (Coverge, 2019), edição #0 da Revista Ignoto (2021), Folia (Medusa, 2021), Os Casos Ocultos de Sherlock Holmes (Cartola, 2021), Crocitar de Lenore (Morse, 2021), Vikings (Cartola, 2022), Projeto Vórtice (Cartola, 2022), Ragnarök (Cartola, 2022), edição Mosca da newsletter Clube Planetário (Agência Polarys, 2023), Beleza Errante (Mentes Errantes, 2024), Diurnos (Mentes Errantes, 2024), e muitas outras. Escreveu também o livro acadêmico A Lenda de Korra: Quebras de Convenções e Tensões entre “Managers” e Criadores (Novas Edições Acadêmicas, 2019), e ainda o roteiro do curta-metragem Caras Legais Não Olham Para Explosões (2020).


Variações: revista de literatura contemporânea 

XII Edição, ano III - lâminas, línguas e Eros

Edição de Bruno Pacífico

2024

Comentários

Postagens mais visitadas