A DEMOCRACIA ANESTESIADA - Gutemberg A. D. Guerra, Manoel Moacir C. Macedo e Manoel M. Tourinho
A DEMOCRACIA ANESTESIADA
Gutemberg A. D.
Guerra
Manoel Moacir C.
Macedo
e Manoel M.
Tourinho
Há muito que se propõe
melhorar o sistema democrático mundo afora. Na Grécia antiga nem todos eram
cidadãos pois havia escravos e excluídos. Mesmo no consagrado livro de Thomas
Morus, a Utopia, as diferenças existiam. Na atualidade, a redução do conceito
de democracia à prática de eleições referendando correlações de forças entre
classes socias distintas não é suficiente para garantir direitos e deveres
iguais aos que dela fazem parte.
A queda do absolutismo
nas revoluções burguesas do século XVIII deram os rumos do que poderia ser um
regime de gestão moderna do estado que proliferou, a duras penas, sob controle
popular em alguns países, mantendo-se, porém, vícios e práticas que remontam
aos regimes totalitários, monárquicos, imperiais e o mesmo acontecendo naqueles
países em que se misturam ou se tentam equilibrar os poderes executivo,
legislativo e judiciário. Os conservadores conseguem fazer manobras para manter
os privilégios das classes abastadas e conservar os pobres à mingua, sob
argumento do fatalismo e castigo dos deuses e divindades. Determinismo na
democracia é contraditório ao próprio propósito da causa.
No caso brasileiro, com
três poderes supostamente harmônicos, estabelecidos sob acordos firmados em
Constituições elaboradas por representantes eleitos legitimamente, as classes
dominantes operam de tal maneira que o Executivo seja subordinado ao Legislativo
e o Judiciário sob pressão para decidir conforme a composição de forças
expressas em eleições minoritárias e majoritárias que ocorrem alternadas a cada
dois anos. A complexa engrenagem não tem permitido grandes avanços e, quando
eles ocorrem em raros momentos de mobilização da sociedade, golpes e manobras
sutis freiam conquistas sociais impressas na genética do sistema de
desigualdades.
Estão claros e postos
vários exemplos de retrocessos reproduzidos a cada década, prolongando-se e
alastrando-se no ambiente social. O nepotismo, por exemplo, se projeta em
verdadeiras dinastias, ou se propaga em artifícios em que os parentes são
contratados no interior do Estado sob variados argumentos, corroendo e
inviabilizando dispositivos simples de democratização do acesso ao emprego, à
renda, à educação e à saúde. Bordões antigos se repetem e se perpetuam
naturalizados: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”, “Mateus, primeiro os teus”
e “Aos amigos tudo, aos inimigos, a lei!”, entre outros “jeitinhos”.
Nesse momento de campanha
eleitoral existem lugares, e não são poucos, em que os candidatos são apoiados
para suceder os seus parentes e engrossar as hostes dos familiares eleitos.
Outro artificio do nepotismo é a captura do Estado com empregos, assessorias e
gratificações aos próximos e aliados. Escamoteiam-se ainda perante os amigos
que servem de “laranjas” ou participam de rachadinhas para locupletar os grupos
de interesses de que fazem parte. Há casos em que a renda geral da família
constitui fortuna amealhada nos empregos de ocasião no serviço dito público,
comprometendo os investimentos em obras e atendimento às necessidades básicas
da população que, apesar de tudo, se julga assim representada.
Longe estamos de um efetivo sistema
presidencialista de governo e um regime democrático como representação de
governo do povo, mesmo tendo o povo eleito um Presidente com promessas
republicanas e que mostra esforços para satisfazer as pautas de campanha, mas
os empecilhos são maiores do que os ventos favoráveis para o seu cumprimento.
No meio do caminho tem “Centrão”, poder econômico nacional e internacional e
uma extrema-direita em evolução. As pressões em curso são para a boiada
continuar atropelando os famintos, provocando fogo e fumaça, anestesiando a
massa ignorante e capaz de eleger e aplaudir os seus próprios carrascos. O
Presidente pode ser eleito pelo povão, mas o Congresso Nacional é das
corporações elitizadas. Diríamos que a democracia chega mais perto do
Presidente da República do que da Câmara e do Senado.
O curioso é que a
ganância é tanta que os esforços de fazer justiça são tratados como ditadura,
como se esganar, maltratar e até matar o povo fosse legítimo, pois foi ele
mesmo quem elegeu os seus carrascos. E foi! A impressão é de que a democracia
foi sequestrada ou está anestesiada pelos seus próprios remédios e venenos.
Vladimir Ilich Ulianov, o
Lenin, líder da Revolução Socialista na Rússia, berço do socialismo mundial,
não escondia a sua proposta de instalar uma ditadura do proletariado, e o
regime cubano não abre o flanco para eleições anestesiadas com o financiamento
publicitário enganoso e vil, vulnerável às intervenções externas e manipulações
internacionais.
Nem sempre as ditaduras
favorecem as minorias, e nem sempre a democracia é sensível às maiorias. Muito
distante estamos do que seja um país igualitário ou menos injusto com os seus
nacionais.
Gutemberg A. D. Guerra,
Manoel Moacir C. Macedo e Manoel M. Tourinho são engenheiros agrônomos e
pós-graduados em Ciências Sociais.
Obrigado por nos presentear com seus textos reflexivos!!
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