A Formação política do cidadão - Gutemberg A. D. Guerra; Manuel M. Tourinho; Manoel Moacir C. Macedo
A Formação política do cidadão
Gutemberg A. D. Guerra;
Manuel M. Tourinho; Manoel Moacir C. Macedo
A política é o campo civilizado para a solução
de conflitos de gestão de territórios, sejam eles municipais, estaduais,
federais ou de estados em negociações pacíficas e democráticas. Nela cabem as
contendas e interesses de categorias sociais diferenciadas e para isso são
criados dispositivos que permitam o diálogo.
A política, em sua essência, é intrínseca ao
ser humano. Aristóteles (384-322 A. C), filósofo grego, escreveu que o homem é
por natureza um animal político porque a sociedade resulta do preenchimento das
necessidades humanas. Edgar Morin (1921), educador francês, contemporâneo e
autor do “pensamento complexo” cunhou o termo “política da civilização”, como a
luta pelo controle do poder que fomenta e regula as necessidades humanas, daí a
importância da formação política do cidadão, da consciência política cidadã,
deixando de ser o “cidadão-piolho”, expressão que significa desenvolver a
caminhada política segundo o pensamento de outros, a miragem na coletividade.
A formação do cidadão sobre a política é
fundamental para se posicionar corretamente em sua comunidade. É necessário
compreender a importância do coletivo sobre os ganhos do salário ou renda do
trabalho, ou ainda do capital que disponha onde vivem e trabalham as criaturas.
No caso dos estudantes, é importante a participação nos grêmios e diretórios
para estudar, debater e expressar as suas contradições, vivências e
reivindicações. É importante saber se relacionar com os vizinhos, em reuniões
do condomínio e na associação de seu quarteirão ou bairro para reivindicar as
melhorias no espaço territorial em que vivem. O mais difícil, entretanto, é
compreender os papéis no conjunto da sociedade, o tipo de viver que almeja e os
conteúdos adquiridos no engajamento partidário, filiando-se muma agremiação em
que a prática política faça parte do cotidiano.
A formação política, enfim, é um ato de
conhecimento, uma aproximação crítica da realidade e uma ação consciente sobre
a realidade objetivada, tomada como processo. A consciência como processo significa
torná-la resultado do entendimento político dos problemas, como objeto que
transcende as formas e performances atuais e chega às origens históricas. No
recente debate televisivo entre os candidatos ao poder executivo municipal, o
que se viu foi a ausência das motivações históricas, econômicas e sociais sobre
a problemática da cidade em sua complexidade sistêmica e diversificada.
Os partidos comunistas e descendentes
carregavam em seus fundamentos, até décadas passadas, estratégias politicas
como jornadas ou grupos de estudo para qualificar os seus militantes. Na
agenda, constavam análise de conjuntura, debates sobre os clássicos da
literatura política que orientava o partido, produção e defesas de teses sobre
os movimentos táticos e estratégicos, tanto quanto a leitura e reflexão sobre as
obras de seus oponentes, para entender a lógica dialética de contendores e
enfrentá-los nas disputas eleitorais ou nas organizações primárias como
sindicatos e associações de moradores no nível micro, preparando-se para os
embates no nível macro.
O debate e a dialética não assentam em ideias
ou cenários inventados. Eram e ainda são expressões manifestas nas relações de
classe que, apesar das metamorfoses, os elos da subordinação não se quebram,
como nas relações atuais na classe dos trabalhadores terceirizados ou
precarizados.
Por fim, hoje é nítida a palidez das lutas dos
trabalhadores na dimensão de “classe em si e não classe para si”, inclusive nas
campanhas eleitorais.
O tempo do barulho, aqui qualificado como
o calendário eleitoral, revela os valores da sociedade, na dimensão política
dos eleitores. As campanhas eleitorais refletem a história política das cidadãs
e cidadãos. Elas não são construídas no vácuo social, mas em condições
histórias, políticas, econômicas e sociais, em determinados espaços temporais.
A
sociedade passou de forma conservadora da ruralidade para a urbanidade. Em
poucas décadas, a economia agrária se movimentou para uma realidade agroindustrial.
A atualidade pode ser tipificada como uma sociedade massificada pelo consumo,
movida por mídias corporativas e inspira a questão: permeia, no meio social,
abstrações de natureza política? Ou tudo ficou e permanece reduzido às
estratégias eleitorais que tem como elemento fundamental, os movimentos táticos
de agitação e propaganda (agiprop)? Diga-se, aliás que estes foram os movimentos
que a esquerda produziu, muitas vezes tratados entre os pares pelo diminutivo
ou contração das duas palavras como dito acima.
Esses momentos foram decorrentes da formação de
conteúdos que permitiam aos recrutados uma compreensão mínima do que estavam
fazendo. A direita de forma surpreendente, adiantou as práticas políticas em
plataformas midiáticas para o enfrentamento da esquerda, arregimentando uma
diversidade de públicos, a exemplo de pobres e mercenários, doutrinados por algoritmos
virais, sem nenhuma capacidade de distinção de seus efeitos. Nesse sentido, é
possível, então, a coalizão política entre partidos de esquerda e de direita? A
resposta, é sim, desde que os fins sejam espúrios, como as regulações de
emendas parlamentares, sempre contrárias à coletividade.
A confusão estabelecida na sociedade é enorme.
Os candidatos ao legislativo fazem propostas como se estivessem competindo ao poder
executivo. Por sua vez, os candidatos ao executivo fazem discursos como se
pudessem criar um mundo novo, sem considerar as estruturas sociais e históricas.
Os candidatos de partidos revolucionários parecem não conhecer como ocorreram as
revoluções e as transformações delas advindas. Os reformistas parecem não saber
exatamente o que reformar. Os apoiadores do status
quo propõem mudanças nos discursos embora sejam apoiados pelos que não
estão nem um pouco interessados em sair de seus lugares. É gasta mais energia
na desqualificação dos concorrentes do que na explicitação de seus propósitos,
o que finda em promessas irrealizáveis, estelionatos explícitos para quem tem o
mínimo discernimento.
As campanhas eleitorais parecem manifestações
carnavalescas, com música, com jingles,
sambas, fantasias e desfiles nas principais avenidas dos centros urbanos,
cabalando votos dos indecisos e confusos eleitores, espalhando panfletos
coloridos, formatados com mensagens e símbolos semióticos e subliminares
sugerindo patriotismo, defesa de valores éticos e morais bem distantes do que
demonstram o cotidiano de seu viver. A identificação dos princípios que
norteiam cada candidato, o que deveria estar na plataforma dos partidos, são
escondidos em risos e poses ensaiadas. O propósito é o voto pela beleza dos
cabelos e da epiderme bem tratada.
Ao final, sabemos que há bons candidatos, mas
nessa miríade que são as ofertas das eleições minoritárias, é muito difícil
para os pobres mortais saber os qualificados para servir ao outro no controle
das estruturas estatais.
Excelente reflexão sobre nossa caótica realidade política!!!
ResponderExcluirCreio que somente com uma Educação séria e não partidária poderemos mudar este quadro!!!!
Belo trabalho !!!