TRÊS POEMAS INÉDITOS DE CAIO VINÍCIUS
Toujours
poder pagar o aluguel será o sonho de muitos até
quando morar deitar dormir deixar de ser um
luxo até
lá seguimos cabisbaixos latinoamericanamente
reclamando o preço do sol capinando lotes
preocupados em interpretar
certo o humor da bolsa
temos poucos problemas em aceitar a herança
dos nossos pais e
de repente saltar de lá
uma onça horrenda
preferimos um palio um esturjão chegar o fim
de semana comprar barato no bar primeiro
de maio e descaralhar
os cabelos por toda parte garras e ir tocaiando a
noite no melhor
sentido possível
acordo antes das seis de um sono mal dormido
já é outono preciso ir em ipanema declarar que
estamos todos vivos
eu você e apesar
do peso do sol
ganir baixo para ver se não acorda
a onça
carregando no quasar a garganta
opostos ao nunca num ritmo de ancas
A boca é o início do mundo
esses dias ando tendo a impressão
que minha gengiva tem sangrado mais
não sei se é o cigarro o bruxismo
ou as palavras que não digo a você
Notas sobre a ferida
você vai crescendo por entre meus dedos
médio e anelar no espaço de contato
entre um e outro você entrou na minha vida
na minha pele e decidiu não sair nem com sal
nem com antibiótico e reza você não larga
o osso e continua comendo meu dedo
até a carne você é meu lembrete diário
da morte e o amor dela pelo meu corpo
eu quero construir outras alianças
fúngicas absorver outra flora e alimentar
um coro de vozes ferais na ebulição do meu
ácido acolher as fontes de vida que urgem
na rama mais ridícula das nossas roças
no meu monoteísmo que obriga a boca a repetir
o arroz e feijão a repetir o vinagre a repetir
a carne viva ainda exsudando um sangue
em que eu acordo e deliro
Variações: revista de literatura contemporânea
XII Edição, ano III - lâminas, línguas e Eros
Edição de Bruno Pacífico
2024
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