Voando em três línguas - Resenha por Gutemberg Armando Diniz Guerra





 Voando em três línguas - Resenha

Gutemberg Armando Diniz Guerra


VIEIRA, Paulo. Livro de Imaginacéu. Belém: Mezanino Editorial, 2024.



         A capacidade de surpreender que Paulo Vieira  exibe em cada um de seus trabalhos não se limita ao escrito, nesse caso uma das novidades é que este Livro de Imaginacéu vem publicado em português, espanhol e francês, com lançamentos feitos no Brasil, Colômbia, França e Bélgica. Aqui em Belém ele fez performances declamando seus versos, mas no livro se faz ilustrar favorecendo a estreia de artistas amazônicos, traduzir envolvendo profissionais de outros países, acompanhar e fazer parcerias com músicos da melhor qualidade, mobilizar pesquisadores de suas áreas de interesse e desfilar pelo mundo inspirando todas as áreas para a defesa do planeta contra a onda tresloucada da destruição, em particular das agressões contra a floresta amazônica. 

Neste Livro de Imaginacéu que dedica a “todos os jovens que moram na Amazônia” ele libera a criança que tem em si, convida, envolve e faz sair de cada um dos leitores os meninos e meninas que cada um esconde sob carapaças que o mundo faz cada um criar. O interessante é que ele faz isso sem infantilizar ninguém, mas ao contrário, provoca conteúdos e reflexões inteligentes e muito bem-humoradas. 

Demonstra conhecimentos de ciências naturais e de literatura, além de incorporar com leveza e poesia conteúdos socio ambientais da atualidade. Em textos curtos e fáceis de guardar na memória, seus poemas podem ser declamados para e por pessoas de todas as idades, fazendo-as soltar a imaginação de maneira lúdica, humorada e muito criativa. As imagens que faz surgir de suas palavras muito bem articuladas soam com ritmo e melodia, além de incorporar os elementos estéticos que Avylla de Oxalá incorpora em desenhos em preto e branco com uma técnica apurada de quem domina o traço e as variações das tonalidades utilizadas. Essa ilustradora encanta desde a capa, cuidadosamente posta com uma dupla de animais silvestres em um abraço amoroso e enroscado, em uma posição zen.

 O conjunto de poemas soma 22 de tamanhos e conteúdos variados, iniciando com o criativo intitulado “Palarvores” 

As palavras são árvores,
cada folha é uma letra de alguma palavra.
Altas, frondosas, as palavras dão sombra e fruto 
(crianças e poetas adoram comer 
os frutos das palavras)”

As associações entre natureza e literatura vão se fazendo em exercícios crescentes de criatividade em que os sons e ritmos entretêm e induzem a perguntas e reflexões sobre o papel de cada um dos seres, humanos ou não, no ambiente. Há poemas que foram feitos para serem recitados ou lidos e declamados em voz alta.


“A abelha
Entra na boca das flores
Só pra ouvir coisas doces
Depois, tonta de amores, voa por aí
Fazendo BzZzZzZz”

Estes dois exemplos dados acima são apenas para inspirar a que leiam alto esse livro, de preferencia na companhia de crianças. Eu fiz isso e foi bom para mim e para quem ouviu e ficou depois comentando comigo que poesia e poemas eram esses, tão engraçados e diferentes. O diálogo despertado foi algo que me convenceu mais ainda de que a imaginação não é a louca da casa, como dizem um velho ditado e os que ficam tentando controlar os sentimentos e as possibilidades de ir além do corpo e da matéria sem que isso seja ruim. Ler não é deixar a imaginação solta, é montar nela e sair a experimentar o mundo e as coisas boas que ele pode oferecer a quem nele vive. 

Paulo Vieira está a pleno no seu processo criativo. Realizando um pós doutorado em Belém mas com incursões em outros países, ele não deixa a literatura na gaveta e consegue publicar para o deleite de quem tem a sorte de poder ler o que brota de sua lavra de poeta, engenheiro florestal e professor nas margens do Xingu, em Altamira. Só em 2024 já tivemos o lançamento de Tao Te Xingu e agora este Livro de Imaginacéu que não deve ser deixado de ser lido o mais breve que se possa! Recomendo, sim!

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