1 crônica de Ana Meireles
O RITUAL FÚNEBRE DA PERERECA
Arlena era uma mulher abastada de afeto, fantasias e imaginação fértil. Quando muito jovem, lia revistas e livros com histórias românticas. Sonhava viver tudo aquilo que lia, mas a vida foi mostrando o baque da realidade. Casou com um homem totalmente oposto ao seu jeito de ser, voltado somente para seu mundo, sem corresponder às suas expectativas de mulher sonhadora.
Casada há anos... Um belo dia, assistia a um programa de televisão em que os cantores, a maioria já havia morrido, eram lembrados. As músicas tocadas faziam lembrar um passado distante, de boas recordações. Seu marido sempre gostava de ser a expressão do desprazer nas coisas que apreciava. Disse-lhe: "Esses aí todos já morreram..."
A palavra tocou-lhe a fresta da alma, trazendo uma profusão de lembranças. Tantas coisas já estavam mortas na sua vida. Repentina raiva lhe subiu e fez arder suas têmporas, como se fosse uma febre. E, deste dia, tomou uma resolução que há muito intencionava fazer.
Aguardou o horário em que costumava ir deitar-se e organizou seu plano fatal. Buscou as duas faixas de cetim preto e as rosas que comprara para aquela ocasião funerária. Ligou o abajur de seu quarto, deixando o ambiente na penumbra, e foi despir-se. Na cama, deitou-se devagar e organizou sobre seu corpo, na região da sua genitália, a grande faixa preta e as flores roxas. Um pouco mais tarde, seu marido entrou e assustou-se com a cena, indagando: "O que é isso?".
Arlena respondeu para o Sr. Crivaldo, seu marido: "Não está vendo? Hoje está sendo realizado o velório de uma perereca morta há muito tempo." Essa infeliz nunca mais viu um pinto duro.
Ana Meireles, Poeta Paraense, fez sua primeira publicação no ano de 2014. Tem paixão pela escrita e pela música, é compositora. Para além das publicações individuais, tem presença em diversas antologias, amando escrever na forma poética Spina. Suas publicações totalizam 7 livros no gênero poesia; 2 de literatura infantil e 1 de crônica, a saber: Escritos ao Vento; EntreVersos; Tempo Meu; UniVersosMeus; Semblante de Nós; Vasos ficam lindos se ornados com flores; No fosso da garganta; Clarissa; Corujinha; Atravessamentos.
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