1 POEMA INÉDITO DE NATHÁLIA RANNY

Fotografia de Amanda Erthal. Nathália Ranny, 2024.


Golden Hour

 

divago palavras

feito quem escorre

líquidos minerais

em lágrimas que ardem

na taça opaca da noite

 

me intuo de presságios

e castelos de saliva

mastigo trovões úmidos

até digerir tua sombra

sobre minha pele

 

nada escapa

aos defeitos de ser carne

ouvir os sinos

lambendo a cidade

de dentro pra fora

 

a perfeição é um espelho sem fenda

onde corpo nenhum consegue

atravessar

 

a noite me nomeia tantas

sem pudor

na boca furiosa de minha mãe:

rio

alongo-me no caminho febril

deste

       midas

 

é sempre a água doce:

meu berço, meu cio, meu terço



Nathália Ranny é indígena, mãe, artista multidisciplinar e produtora. Trabalha com audiovisual, literatura e eventos de música erudita. É formada em direção cinematográfica pela ECDR (2018). Cursa psicologia (Famath) e se dedica aos estudos decoloniais que envolvem escrita, psicologia e práticas espirituais. Em 2024, publicou seu livro de estreia Vai ver eu dou meu toque, pela editora Laboriosa Produções Poéticas, na 22ª FLIP.


Variações: revista de literatura contemporânea
                                XIII Edição - vidas fantasmas: poéticas assombrológicas
                                                       Edição de Bruno Pacífico, 2025.




 

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